segunda-feira, 31 de julho de 2017

O rapaz na cadeira de rodas


 Há algum tempo venho cruzando o caminho de um rapaz que anda numa cadeira de rodas. Quase todos os dias o vejo com seu acompanhante pelas ruas perto da minha casa. Ele é jovem, deve ter a minha idade, mais ou menos, e eu o acho muito bonito. Sempre que passo por ele tento disfarçar o olhar para não deixa-lo constrangido. Me lembro de quando precisei usar muletas por um tempo por causa de um pé quebrado ou tornozelo torcido. Bastava eu entrar num lugar que os olhares se voltavam para mim. Na rua, a mesma coisa. Parecia um misto de pena com expectativa de sei lá o que. Eu cair? Nunca entendi a quase hipnose que isso causa nas pessoas. Mas vivenciei o desconforto de estar naquela condição. Me dava vontade de falar: “Que foi? Eu quebrei o pé, só isso.” Mas era tão óbvio.

No caso deste rapaz, não é óbvio. Fico imaginando se sua condição é temporária ou irreversível. Seu olhar me parece triste, tímido e eu sempre tenho cuidado para não encará-lo muito. Hoje, o vi de novo, com seu acompanhante sorridente, sempre conversando. Eu estava de bicicleta e os avistei de longe, a quase um quarteirão de distância, vindo em minha direção. De repente, me deu uma vontade louca de gritar, quando estivéssemos passando lado a lado: “VOCÊ É LINDO!!” e sorrir para ele. Eu estava pedalando, então seria tudo muito rápido e, provavelmente, eu não conseguiria ver sua reação. Mas acredito que abriria um sorriso também. E talvez aquilo melhorasse seu dia, e até um pouquinho da sua autoestima. Eu tive tempo para pensar nisso tudo e ponderar. Então nos cruzamos. E eu fiquei quieta. Não tive coragem. Verdade que não saio distribuindo elogios aos gritos por aí normalmente. Aliás, tirando cantadas machistas, que não são, nem de longe, elogios, dificilmente vejo acontecer. Mas hoje foi diferente. Senti que seria um gesto de carinho, que poderia gerar algo bom para outra pessoa. Porém, não o fiz. Por não conhecê-lo e não saber como ele interpretaria, por medo de arriscar um ato tão ousado, mas, principalmente, porque crescemos cheios de amarras, restrições e limitações já pré impostas e nunca paramos para nos questionar se isto é razoável, se é assim mesmo que queremos ser e o que aconteceria se fizéssemos diferente. Não podemos ser espontâneos? E, neste caso, nem seria. Tive vários segundos para avaliar as consequências. Mas não. Mais uma palavra de carinho ficou guardada, escondida, porque algum dia, alguém resolveu que era para ser assim. E eu acreditei. Mais uma vez o “e se...” ganhou a cena. Quantos sorrisos não são dados, quantas pessoas não se conhecem, quantas histórias não são contadas, quantos sofrimentos não são evitados, quantas pessoas não reconhecem seu valor, simplesmente porque guardamos, egoistamente, nossas admirações? Alguns valores da infância realmente não deveriam se perder pelo caminho... Afinal , o que podemos, o que queremos e o que devemos fazer?

Apesar disso, algo me diz que um dia nos conheceremos, eu e o rapaz da cadeira de rodas. Talvez (tomara!!) ele nem precise mais da cadeira nesse dia. Talvez, por estar sem ela, eu nem o reconheça. Mas seja como for (e se for), eu gostaria de poder contar essa história pessoalmente a ele. Me faria bem e, acredito, a ele também. E não há sensação melhor do que a de fazer bem aos outros.

:)

domingo, 9 de julho de 2017

Príncipe


Lá estava eu, no auge dos meus 30 anos de idade, esperando a nave descer e a Xuxa entrar no palco. Não, não era década de 80... Era outubro de 2016. E este fenômeno só foi possível graças a um grande amigo, super ousado que um dia fez uma festa de aniversário que tomou proporções inimagináveis, até virar uma das maiores festas do Brasil, com direito a grandes shows. Nesse dia, era o da Xuxa. E eu, como típica baixinha que fui, estava lá, ansiosa. A pista onde eu estava, não estava abarrotada de gente, ainda dava pra circular tranquilamente sem se perder. Quando, de repente, avisto um rapaz LINDO, mas lindo mesmo. Meu queixo caiu. Minhas amigas nem me deram ouvidos. Acho que eu devo me encantar com frequência pelos estranhos que cruzam meu caminho (vide post anterior). Estava quase me recompondo, quando ele passou de volta. Num impulso, sem nem pensar, fui andando atrás dele. Não sei bem o porquê, já que dificilmente eu o abordaria. Muito menos sóbria como eu estava. Mas foi como se algo tivesse me empurrado, me forçado a seguir aquele instinto. Quando dei por mim, estávamos parados na mesma roda de pessoas. Isso porque um dos amigos dele, era meu amigo também. Como não amar esse mundo ovo nessas horas? Na verdade, fazia anos que não nos víamos e cheguei a ficar um pouco em dúvida se era de fato quem eu pensava. Mas era. Em menos de um minuto, eu estava sendo apresentada para  o rapaz que eu segui. Em menos de dois minutos, eu percebi que não teria chances com ele. O papo fluiu, porém. Me contou que morava em São Paulo, estava na cidade para ver o show, conversamos o suficiente para ver que era um cara bem legal. Mas logo voltei para onde meus amigos estavam. A pista lotou. Assistimos ao show e fomos embora, sem com que eu o encontrasse de novo. Vi da que segue.

Na semana seguinte, fui fazer, pela primeira vez uma endoscopia. Meus amigos me alertaram sobre os efeitos da pós anestesia. Uma chegou a me falar: “Cuidado. Quando eu fiz, saí da clínica e comprei um carro.” Medo. Fiquei imaginando o que aconteceria comigo. Será que eu fugiria para as Maldivas? Casaria com um anão? Nadaria no mar do Flamengo? Comeria azeitona? Socorro!!!!!!!!!! Pedi para a amiga que foi comigo que cuidasse para que eu não fizesse nenhuma besteira. Tudo certo. Saí direto pra casa, onde estava fora de perigo. Deitei na cama com o computador, abri o Facebook e... Opa!! Quem havia me adicionado?! O próprio. E quem estava online? Ele mesmo. E com quem eu conversei? Sim. E eu abri meu coraçãozinho grogue e me declarei, sim ou com certeza? Muito. E ainda assim continuamos conversando por dias, semanas, meses. Me confidenciou que, há anos, tinha um sonho. Me comprometi a ajudá-lo a realizar. Nos encontramos em São Paulo, dois meses depois, para assistir o mesmo show. Dessa vez, juntos. Amizade mais que  firmada, dois meses se passaram novamente, e ele retornou ao Rio e se hospedou na minha casa por uma semana. Foi quando descobriu o apelido carinhoso que dei a ele: Príncipe. Foram sete dias de muitas conversas sobre a vida, passado, presente, futuro, crenças, energias, o poder do universo... Criamos uma conexão muito legal. E não só uma vontade de que os planos dessem certo, mas também uma certeza. E, nesses planos, incluía morarmos juntos.

Pois bem. O universo conspirou MESMO!! Ele correu muito atrás do seu sonho. E assim, cada peça foi se encaixando e tudo aconteceu como num roteiro de cinema. Ele o realizou, com minha ajuda, como prometido. E nós estamos morando juntos!


Acho esta história tão incrível!! Ela é a prova de que pequenas ações podem refletir em algo muito maior no futuro. E que ousar sair um pouco da caixa faz bem e pode ser surpreendentemente bom!! No mínimo gera uma super história para contar e influenciar outras pessoas. E sabe-se lá o que elas farão com isso e onde isso vai dar. São tantas borboletas batendo asas...