sexta-feira, 29 de julho de 2016

DEIXE A ESQUERDA LIVRE!!!!

DEIXE A ESQUERDA LIVRE

Minha mãe sempre me disse: “Política, futebol e religião não se discute.” De todos os conselhos que ela já me deu na vida, acho que este é o único que sigo à risca até hoje. Portanto, este não é um post sobre política. A esquerda aqui é OUTRA!!!

Dito isto...

Pelo amor de... qualquer amor, você que não tá com pressa...
Você que tá desligado da vida...
Você que é auto centrado...
Você que tá abraçadinho com alguém e quer matar os outros de inveja...
Você que tá com criança...
Você que é egoísta mesmo...
Você que não sabe a diferença entre direita e esquerda...
Você que é rebelde, com ou sem causa...
Você que tá embalado pelo som do seu fone de ouvido...
Você que tá a passeio (na rua ou na vida)...
Você que não tem bom senso (mas deveria)...

DEIXE A ESQUERDA LIVRE!!!!!!!!!!!!

O dia em que todos perceberem como a vida é curta para ficar preso na escada rolante, o mundo terá menos gente querendo matar os outros. – disse meu lado apressado e impaciente.
Quando eu era criança, adorava os Jetsons. Achava o máximo aquelas casas suspensas, as naves, os robôs falantes, mas principalmente a esteira rolante que eles tinham em casa. Ninguém caminhava, todo mundo ia devagar na esteira. Em CASA! Até que elas (as esteiras)  surgiram no mundo real, em aeroportos e até no metrô. Legal, né? Mas aí tem uma galera que acha que tá na casa do Jetsons. Não satisfeitos em pararem para dar uma voltinha de esteira, eles escolhem fazer isso do lado ESQUERDO. Aí, eu me pergunto: por que?! Onde tá o semancol dessa gente que tem tanto prazer em atrapalhar o fluxo?! Eu entendo aquela esteira como algo pra ajudar quem tem pressa a ir mais rápido (por isso elas estão em aeroportos e estações de metrô, e não nas calçadas, na orla, nos shoppings...). Salvo idosos e pessoas com alguma dificuldade de locomoção, o que leva alguém a parar na esteira? Nem paisagem tem, para apreciar. Desculpa gente, mas não. Apenas NÃO. Nessas horas, tudo o que eu queria era uma vuvuzela, bem barulhenta, pra acordar o bom senso desse povo.
Certo dia, lancei o tema no meu Facebook. Eis que...


 “Menos no shopping, né?! Metrô e tal, é claro, mas o infeliz que tá dentro de um shopping ultrapassando os outros na escada rolante é o mesmo que buzina no trânsito até chegar em casa pra ver novela.” – disse ele, polemizando.

“Cara, em TODOS os lugares. Em TODOS!!! Não tem motivo pra ocupar tudo. Cada um com suas pressas. Já vi muita novela... Sem julgamento.” – disse eu.

“Mas tá julgando quem vai pro shopping pra passear relaxado com a família. Rs!” – provocou ele.

“Relaxa do lado direito, gente!!!!” – implorei.

“Sei la... sempre andei do lado direito. Mas num shopping, se eu tô com pressa, não forço ultrapassagem, se realmente eu estivesse com pressa não estaria dentro de um shopping... É tipo buzinar dentro do estacionamento. Dá vontade de sair do carro, ir até a porta do estressadinho, acender um baseado e passar...” – sugeriu ele.

Mas e se você trabalhasse no shopping e estivesse atrasado? E se você perdeu uma criança no shopping e tá desesperado? E se você tá atrasado pro cinema? E se estiver apertado para ir ao banheiro? E se seu pager do Outback vibrou? E se você tá fugindo de um chato que viu no outro andar? E se você só entrou 14 minutos  para não pagar estacionamento e o tempo tá acabando? E se sei lá, mil coisas? Deixa a esquerda livre!!! Por favor, nunca te pedi nada!!” – agonizei!!

“Hahahahahahah mas eu ja deixo!!! Hahahahahahaa nao tenho namorada e nem família. Só acho que as pessoas que estão em um ambiente de descontração não são culpadas dos problemas do mundo! Hahahahaha” – disse ele, rindo, sem imaginar metade do que se passou pela minha cabeça ao ler isto.

Todo mundo é culpado dos problemas do mundo. Mas isso é outro papo. Só acho que muito ajuda quem pouco atrapalha. Do lado esquerdo ou do lado direito, você vai demorar o mesmo tempo pra chegar, então colabora com o atrasado desesperado e deixa a c@R@£h@ da esquerda livre peloamordavacagerse!!!!” – morri.


quinta-feira, 28 de julho de 2016

Cachorrólatras

Quanto mais eu conheço as pessoas, mais eu gosto do meu cachorro. É clichê, mas para mim, é bem assim que funciona. Amo animais, mas sou completamente apaixonada por cachorros. Essas criaturas bem humoradas, companheiras, fiéis, carinhosas, sinceras, em quem não vejo nenhum defeito!!

Tenho uma cachorra, e como a grande maioria dos donos apaixonados, a trato como membro da família. E não dá para ser diferente. É comum entre os donos observar características de humanos (mesmo que imaginárias)  nos seus bichinhos e, assim, tratá-los quase que de igual para igual. Essa relação, sendo sã e não passando dos limites do bom senso, me diverte. Minha “filha”, por exemplo, tem um colarzinho que fiz para ela e às vezes passeia por aí desfilando com ele.

Na praça onde passeamos, os donos de cachorros se conhecem pelos nomes... dos cachorros! Sei quem são os donos do Bob, do Thunder, do Petrus, da Nina, da Tina... Mas não sei o nome de nenhum deles. Também acabei me tornando amiga dos moradores de rua que dormem na praça e adotam cachorros. Assim eu conheci o Bob Marley (que é apelido, porque o nome mesmo é Beethoven), a Sophia Loren, o Diamante e o Fiel. Então, inevitavelmente, me tornei a famosa: Dona da Jolie.

De nossos passeios me lembro de inúmeras histórias divertidas, mas uma em particular, eu gosto muito de contar. Aconteceu há uns anos, quando, ao chegarmos à praça, encontramos um conhecido que, assim como eu, também perdeu sua identidade e se tornou o Dono da Valentina e do Frederico, seus buldogues franceses. Fui cumprimentá-los, como sempre faço e percebi que a Valentina não estava com eles, o que já me dá um receio de perguntar e ouvir uma notícia triste. Ele então me contou que ela estava em SP, fazendo um tratamento de coluna, pois, devido a seu peso, acabou tendo um nervo pinçado e precisava de fisioterapia. Contou que, apesar de tudo, ela estava bem, sendo tratada num spa, por um especialista, para voltar nova. Qualquer um que passasse e ouvisse um pedaço da conversa, teria certeza de que a Valentina em questão era um ser humano. A conversa fluía, quando de repente, ele olha para trás de mim e grita: “Frederico, NÃO!!!”
Tarde demais. Frederico estava me usando como seu poste particular. Urinou na minha perna. Poderia ter ficado chateada, com raiva, não fosse a reação do dono, que deu uma bronca daquelas! Ele dizia: “Frederico, você está maluco?! Ela não é uma árvore!! Não pode isso, uma pessoa mijar na outra!!! Que horror!! Eu não estou achando graça nenhuma!!!!”
Isso tudo intercalado de mil pedidos de desculpa. Mas eu não conseguia parar de rir daquela bronca tão cheia de regras de conduta. Ora, ele estava apenas querendo me marcar como território dele. No fim das contas me senti lisonjeada.

A verdade é que os bichos não tem maldade. Aposto que Frederico estava com a melhor das intenções quando me escolheu para fazer xixi. Para mim não foi agradável, claro, mas valeram boas risadas, este texto e um prêmio na loteria (sim, porque de tanto ouvir que isso era sorte, joguei e ganhei... R$3,00....).

Eu questiono muito tudo e todos que cismam em dizer que os seres humanos são os mais evoluídos  graças à sua capacidade de raciocínio.  Sei não, hein... Pense bem... Não fosse isso,  haveria guerras, corrupções, poluição, efeito estufa, desigualdade social e tantos, tantos outros problemas? Há bens que vem para males.

Às vezes me pego pensando no que aconteceria com o planeta caso fossem extintos os seres humanos. E o que aconteceria caso fossem extintos os animais. Qual o melhor cenário? Viagens minhas... (Respostas óbvias.)

Mas... Antes que eu seja apedrejada, ou este texto vire uma filosofia-boring-nonsense-de-bar, me defendo. Não levanto bandeira desta minha utopia. Como dizem por aí: “Aceita que dói menos.”. É o que faço. Afinal, o que não tem remédio...


Cabe a mim amar os animais, admirar as pessoas que prezam por eles e continuar sonhando com a salvação de todos os cachorros de rua!

terça-feira, 26 de julho de 2016

Em um relacionamento sério...com o celular!!!

Era maio. Ou outubro. Janeiro, talvez. Não importa, desde que o ano seja entre 1986 e 1999.
As crianças andavam de bicicleta, jogavam bola, subiam em árvores, corriam, se sujavam, tinham apelidos engraçados... Eu me lembro, eu estava lá e era uma delas!! Bullying não era nem palavra nos dicionários daquele tempo.

Para as que moravam em prédios, como eu, era comum ouvir as mães gritando pelas janelas: “Fulano, sobe pra jantar!!!” ou “Fulana, hora do banho!!”. Bons tempos. E olha que não estou falando dos anos dourados nem da época de vovó usando biquíni!! Ontem mesmo as pessoas interagiam entre si. As mães preocupadas, as crianças ansiosas, os adolescentes rebeldes, os casais apaixonados, se comunicavam por meios quase obsoletos, como a boa e velha carta e o tal do “pessoalmente” (que hoje se encontra em vias de extinção). Atualmente, como um tema de jornal de ciência, nos perguntamos: “E estas crianças sujas e felizes, onde estão? Quais são seus hábitos? Do que se alimentam? O que as espera no futuro?”

Quanto à primeira pergunta, respondo por mim. Estou agora atrás de um computador, com cinco páginas de sites abertas, um celular ao lado, no qual, de três em três minutos eu leio e respondo mensagens. Quem estiver muito diferente, que atire a primeira pedra.

Já a segunda resposta chega ao meu tema principal. É impressionante ver como as gerações que nasceram “offline”, hoje dependem de celulares e internet para viver. Falo por mim, que há alguns meses, ao entrar no metrô,me dei conta que havia saído de casa sem celular. Foram quatro longas horas de abstinência até nosso reencontro, e um dia de compromissos adiados. Sair sem roupa teria me dado menos dor de cabeça e menos prejuízo naquele dia. Na semana seguinte, esqueci minha carteira com dinheiro e todos os documentos e segui o dia em paz, com agenda cumprida. Vai entender...

Outro dia li (numa rede social, claro) a seguinte frase: “Reza a lenda que, se você soltar o celular e levantar a cabeça, verá ruas, pessoas, animais, árvores, carros e muito mais.” Entre uma mensagem e outra, tentei e funcionou. Só não durou muito tempo.

Normal hoje é chegar a na casa de um amigo já perguntando a senha do Wi-fi. É ver bebês em seus carrinhos olhando fixamente para seus (sim, SEUS!!!!) Ipads e ignorando a paisagem em volta. É partir pra falta de educação e usar seu celular nos cinemas e teatro, sem nem se dar conta de que está atrapalhando a pessoa ao lado. É não saber do casamento da amiga porque não olhou o evento no Facebook (aconteceu semana passada...)! É fazer pesquisas escolares no Google e terminar (de copiar e colar) em minutos. É esquecer de anotar o dever de casa no colégio e pedir pro amigo mandar via Whatsapp. É decorar uma infinidade de senhas com uma facilidade que as tabuadas jamais viram! É nunca estar numa mesa de restaurante ou festa onde não há alguém teclando! É selfie! É selfish!! É a conexão virtual das pessoas acabando com os relacionamentos reais!

E como não se lembrar do filme “Ela”, do diretor Spike Jonze. Perturbador. Saí incomodada e até meio assustada com o futuro que o filme propõe para a sociedade - uma relação de amor real com uma máquina!! Desde então não parei de refletir sobre como o mundo está doente e caminhando a passos largos para esta vida solitária e triste, graças aos nossos apêndices eletrônicos. O filme vale, antes de tudo, pela crítica, pela provocação e pela discussão que levanta e DEVE ser assistido, se não como entretenimento, como uma forma de reflexão.


Dito isto, preciso ir. Meu celular toca e já tenho e-mails para responder. E assim me despeço... Entre celulares, Ipods, Ipads, Itouchs, mensagens instantâneas, redes sociais, e-mails, senhas, palavras abreviada...  A vida segue!! Até que o 3G nos desconecte.

sábado, 23 de julho de 2016

Diálogos

1:

- Ele vai?

- Sim!!!!

- Vão tomar um vinho?

- Não... Ele está doente, não pode beber.

- Cura ele.

- Vou curar... Dessa doença de não me querer!!!


2:

- Ouve essa música. Eu adoro, mas não é seu estilo.

- Qual é o meu estilo?

- Rock.

- Limitou.

- Limitadinha da Estrela!!

- Estou ouvindo hip hop agora.

- Duvido que você tenha colocado. Alguém te obrigou, com certeza.

- Não. Estou ouvindo com fone, sozinha. As limitada pira!!


3:

- Fiz uma tatuagem.

- O que você tatuou?

- Um desenho meu.

- Uau! O cara deixou?

- Sim, eu paguei.


4:

- Acho que você deveria ficar com ela...

- Ué, mas você não disse para eu nunca ficar com ela, que ela é péssima?

- Sim, mas aí eu lembrei que não tenho moral nenhuma nessa vida.

- Isso é verdade...


5:

(whatsapp)

- Fica perto de Copacabana?

-Não. Mais pra perto do Lenin...
Lennon
Leblon!!!!!!!


6:

- Mãe, estou me sentindo meio mal e...

- Liga pro tio Michel!!!!!!

- Mãe, tio Michel é pediatra...

- Então liga pro Bruno!!!!!!!

- Mãe, o Bruno é veterinário...

- Veterinário também é médico!!!




sexta-feira, 22 de julho de 2016

VRRRRÁÁÁÁ!!!

Um amigo aprontou uma comigo. Me ligou e pediu que eu reservasse 40 minutos pra ele. Feito. Passado um minuto de conversa:

-  “Agora desliga e vai escrever! Se você tem 40 minutos pra falar no telefone, tem tempo para escrever também.” – disse ele.

Tapa na cara. Ou melhor, pontapé na bunda. Aquele que eu precisava. Muitas vezes, tudo o que queremos é que alguém tenha a força por nós. Ele, muitas vezes é isso, a força que não tenho, o olhar e o incentivo que preciso. Acho que vou mudar o nome do meu blog para “Obrigada, Diego”.

40 minutos depois...

- Não consigo!!!!!!

- Escreve sobre não conseguir!

- Já escrevi ontem!! Tá uma merda o que tô escrevendo!

- Você hoje está diferente e o texto não será igual.

- Qualquer barulhinho me irrita. Não tô conseguindo mesmo. Tá foda...

- Escreve sobre isso, Carol. Você está escrevendo pra você e não para o mundo.

- Mas eu quero escrever para o mundo!

Bem, eu estava escrevendo isso:

“Tem uma brincadeira que eu chamo de “Me lembra”. Um grupo de pessoas em roda, a primeira pessoa fala uma palavra qualquer que vier à cabeça, por exemplo: “jujuba”. A pessoa ao lado deve falar a primeira palavra que vier à cabeça dela, relacionada à “jujuba”, como “vermelho”, por exemplo. A seguinte, associa algo à “vermelho”, como “sangue” e vai seguindo... “machucado”, “dor”, “amor”, “Roma”, “viagem”, “férias”, “emprego”, “dinheiro”, “socorro”, “polícia”... Até que decidem quando parar. Então, invertem a ordem, assim: “Falei ‘polícia’ porque você falou ‘socorro’. Falei ‘socorro’ porque você falou ‘dinheiro’...”. E por aí vai até chegar à primeira palavra (jujuba, neste caso). Nunca acreditam que dará certo. Sempre dá. A graça está nas livres associações imediatas que cada pessoa faz com a palavra que ouve. É sempre muito particular e quanto menos óbvio, mais engraçado e interessante fica a brincadeira.
Era um exercício que eu costumava fazer nos ensaios de um espetáculo. Ele mostra como as percepções das pessoas são diferentes, como suas histórias são sempre singulares e como nossas cabeças podem ser mais imprevisíveis do que imaginamos e, ainda assim, fazer todo o sentido para nós mesmos.”


Aí ele me vem com essa:

"Há uma vitalidade, uma força vital, uma energia, um estímulo que se traduz em você pelo seu ato, porque só há um de você em todos os tempos; essa expressão é única. Se você a detém, ela nunca existirá por nenhum outro meio e se perderá. Ela não aparecerá no mundo. Não é de sua conta determinar quão boa ela é, nem quão valiosa, nem como se compara a outras expressões. O que te cabe é mantê-la clara e diretamente sua, manter o canal aberto. Você não tem nem mesmo que acreditar em si mesmo ou em seu trabalho. Você tem que se manter aberto e alerta ao anseio que te motiva. Mantenha o canal aberto. Nenhum artista é agraciado. Não há qualquer satisfação, em momento algum. Há somente uma estranha insatisfação divina, uma inquietação bendita que nos impulsiona e nos faz mais vivos que os demais." - Martha Graham

VRRRRÁÁÁÁ!!!

Vou ali passar um Gelol e já volto.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Do início

Tudo começou assim:

Minha mãe foi chamada na escola. Foi bastante receosa, pois eu não era de dar problema nem defeito. Chegando lá, a diretora mostrou a ela um livrinho que eu tinha escrito.

–“Guarde este livro. Um dia ela será uma escritora.” – disse ela.

Minha mãe, toda orgulhosa, tem o livro até hoje. Algo sobre reciclagem de papel, se não me engano... E com gravuras! Minhas!!  Mas nem me perguntem, não faço ideia de como se recicla nem um post-it. Se eu soubesse, talvez estivesse ganhando dinheiro com isso.

Pouco depois disso, voltamos a morar no Rio, eu e minha mãe. Bem no meio do ano letivo, uma loucura. Saí largando tudo e todos pelo caminho, sem entender bem o porquê, às vésperas de completar 10 anos de idade. Me lembro de algumas despedidas  marcantes, como a da professora de religião me pedindo para que não deixasse de frequentar a igreja e de fazer a primeira comunhão, que seria dali a uns dois meses. Chegando ao Rio, a primeira coisa que pedi à minha mãe foi: “Por favor, não me obrigue!! Eu não quero!!!” Ela deixou. Ufa!!

Me lembro da despedida de meus três melhores amigos, quando subi as escadas do prédio chorando, sem saber lidar com a situação. São Paulo já era minha cidade do coração, onde eu fizera minhas primeiras amizades. Voltar à cidade natal sem quase nenhum amigo, escola nova, dois dias antes do aniversário, no meio do ano e cheia de sotaque paulista, era assustador. Voltando às despedidas, me lembro vagamente daquela diretora me falando algo sobre continuar escrevendo. Eu NÃO DEVERIA parar, pois tinha muito talento.

Os anos iam passando na escola e na vida, inevitavelmente, e entre notas horríveis em Física e Química, vinha sempre uma prova de Português para salvar. Redações eram meu forte, afinal. Foram elas que salvaram todas as minhas provas de História e Geografia, pois eu dominava a incrível arte de reescrever a pergunta com outras palavras, intercalando palavras chaves como: “capitalismo”, “globalização”, “revolução industrial”, “progresso” e ”guerra”.  Nunca coube na minha cabeça a  dimensão de uma guerra ou o que era um mol, mas uma oração subordinada adverbial causal era tão evidente...

Sempre gostei de escrever. Cartas, principalmente. Tive um relacionamento bastante conturbado, que se manteve por muito mais tempo do que deveria, penso eu que, talvez, fosse pelo prazer que eu tinha em escrever cartas e e-mails discutindo a relação. Verdadeiros tratados e bíblias cagando regras, reclamações e lições de moral. A realidade é que, no fundo me dava prazer e até orgulho de ver como eu me expressava bem pela escrita. Falando sob pressão e estresse, sou terrível, abominável. Mas escrevendo, eu conseguia chegar a pontos tão interessantes, que muitas vezes, não acreditava que eu mesma escrevera aquelas palavras. Era como uma auto-terapia.

Já com o teatro, fui percebendo outro dom: fazer as pessoas rirem. Nunca me achei engraçada. Na verdade nunca me preocupei com isso, nem parei para prestar atenção ou resolver se era isso o que eu queria. Simplesmente aconteceu. Eu contava histórias da minha vida e as pessoas gargalhavam . Até meu psicólogo ria dos meus causos, e eu então, questionava se não  era ele quem deveria estar me pagando pelo show. Às vezes a história era até trágica, triste, mas o povo se divertia e dizia: “Você TEM QUE fazer um stand-up comedy!!!”.  Mas a responsabilidade de subir num palco quase que com uma placa de “ria, por favor”, não era pra mim.

Aí juntou essa coisa de escrever, com esse negócio de contar histórias, com minha veia crítica (chata mesmo) sobre tudo e todos , minha visão singular e um tanto peculiar do mundo, mais uma exigência exagerada de mim comigo mesma, e às vezes me pegava longos minutos criando um texto de duas linhas para postar no Facebook. Foram surgindo, então, vários comentários de amigos on e off-line, dizendo que eu TINHA QUE ESCREVER UM LIVRO, porque os meus posts eram engraçados, divertidos, sarcásticos... E eu logo pensava: “Ainda bem que essa pessoa não é amiga de fulano e de beltrano... Se ela visse o que eles escrevem...”. Mas ok, estou começando a entender que tem espaço pra todo mundo e gosto pra tudo, não é mesmo?

E não, gente, eu não TENHO QUE nada. A verdade é que eu QUERO. E o incentivo das pessoas me anima. Mas é tão difícil começar, são tantas as questões, tantos os empecilhos (ainda que inventados)... Eu quero escrever, mas aí: eu adoto uma cachorra filhote, eu brigo com minha mãe, eu tomo um Rivotril, tem uma festa, tô de ressaca, tem louça na pia, não posso faltar a academia, o computador tá velho, as pessoas em volta falam alto, o quarto tá bagunçado, começo a ver uma série, tô apaixonada por alguém, chamam pra tomar uma cerveja, tô com sono, tem um amigo de fora na cidade, tem Olimpíadas, ainda não tomei banho, tem que pintar a porta, resolver o frete, ajudar a amiga, fazer compras, ler as notícias, fazer as unhas, responder os comentários do Facebook, checar o Airbnb, ir à praia, subir para Friburgo, brigar mais com a mãe, almoçar com o pai, discutir com o síndico, ligar pro advogado, consertar a bicicleta, tirar dinheiro, ler um livro pra me inspirar, ter uma ideia genial, arrumar um emprego, trocar de profissão, pensar sobre o futuro, comprar presentes, mandar feliz aniversário, feliz dia do amigo, da árvore, do índio, do beijo, fora Temer... São tantos afazeres, que parece que uma vida não é o suficiente.

Bom, acho que comecei, né?

Não sei se alguém vai ler, não sei se vai fazer sucesso como as histórias que conto pessoalmente, se vai virar um livro, não sei se um dia serei uma escritora, mas enquanto isso, vou sendo uma “escrevedora”.E como dizem: um passo a frente e você não está no mesmo lugar.

Hey ho!



PS: Obrigada, Diego!