quinta-feira, 21 de julho de 2016

Do início

Tudo começou assim:

Minha mãe foi chamada na escola. Foi bastante receosa, pois eu não era de dar problema nem defeito. Chegando lá, a diretora mostrou a ela um livrinho que eu tinha escrito.

–“Guarde este livro. Um dia ela será uma escritora.” – disse ela.

Minha mãe, toda orgulhosa, tem o livro até hoje. Algo sobre reciclagem de papel, se não me engano... E com gravuras! Minhas!!  Mas nem me perguntem, não faço ideia de como se recicla nem um post-it. Se eu soubesse, talvez estivesse ganhando dinheiro com isso.

Pouco depois disso, voltamos a morar no Rio, eu e minha mãe. Bem no meio do ano letivo, uma loucura. Saí largando tudo e todos pelo caminho, sem entender bem o porquê, às vésperas de completar 10 anos de idade. Me lembro de algumas despedidas  marcantes, como a da professora de religião me pedindo para que não deixasse de frequentar a igreja e de fazer a primeira comunhão, que seria dali a uns dois meses. Chegando ao Rio, a primeira coisa que pedi à minha mãe foi: “Por favor, não me obrigue!! Eu não quero!!!” Ela deixou. Ufa!!

Me lembro da despedida de meus três melhores amigos, quando subi as escadas do prédio chorando, sem saber lidar com a situação. São Paulo já era minha cidade do coração, onde eu fizera minhas primeiras amizades. Voltar à cidade natal sem quase nenhum amigo, escola nova, dois dias antes do aniversário, no meio do ano e cheia de sotaque paulista, era assustador. Voltando às despedidas, me lembro vagamente daquela diretora me falando algo sobre continuar escrevendo. Eu NÃO DEVERIA parar, pois tinha muito talento.

Os anos iam passando na escola e na vida, inevitavelmente, e entre notas horríveis em Física e Química, vinha sempre uma prova de Português para salvar. Redações eram meu forte, afinal. Foram elas que salvaram todas as minhas provas de História e Geografia, pois eu dominava a incrível arte de reescrever a pergunta com outras palavras, intercalando palavras chaves como: “capitalismo”, “globalização”, “revolução industrial”, “progresso” e ”guerra”.  Nunca coube na minha cabeça a  dimensão de uma guerra ou o que era um mol, mas uma oração subordinada adverbial causal era tão evidente...

Sempre gostei de escrever. Cartas, principalmente. Tive um relacionamento bastante conturbado, que se manteve por muito mais tempo do que deveria, penso eu que, talvez, fosse pelo prazer que eu tinha em escrever cartas e e-mails discutindo a relação. Verdadeiros tratados e bíblias cagando regras, reclamações e lições de moral. A realidade é que, no fundo me dava prazer e até orgulho de ver como eu me expressava bem pela escrita. Falando sob pressão e estresse, sou terrível, abominável. Mas escrevendo, eu conseguia chegar a pontos tão interessantes, que muitas vezes, não acreditava que eu mesma escrevera aquelas palavras. Era como uma auto-terapia.

Já com o teatro, fui percebendo outro dom: fazer as pessoas rirem. Nunca me achei engraçada. Na verdade nunca me preocupei com isso, nem parei para prestar atenção ou resolver se era isso o que eu queria. Simplesmente aconteceu. Eu contava histórias da minha vida e as pessoas gargalhavam . Até meu psicólogo ria dos meus causos, e eu então, questionava se não  era ele quem deveria estar me pagando pelo show. Às vezes a história era até trágica, triste, mas o povo se divertia e dizia: “Você TEM QUE fazer um stand-up comedy!!!”.  Mas a responsabilidade de subir num palco quase que com uma placa de “ria, por favor”, não era pra mim.

Aí juntou essa coisa de escrever, com esse negócio de contar histórias, com minha veia crítica (chata mesmo) sobre tudo e todos , minha visão singular e um tanto peculiar do mundo, mais uma exigência exagerada de mim comigo mesma, e às vezes me pegava longos minutos criando um texto de duas linhas para postar no Facebook. Foram surgindo, então, vários comentários de amigos on e off-line, dizendo que eu TINHA QUE ESCREVER UM LIVRO, porque os meus posts eram engraçados, divertidos, sarcásticos... E eu logo pensava: “Ainda bem que essa pessoa não é amiga de fulano e de beltrano... Se ela visse o que eles escrevem...”. Mas ok, estou começando a entender que tem espaço pra todo mundo e gosto pra tudo, não é mesmo?

E não, gente, eu não TENHO QUE nada. A verdade é que eu QUERO. E o incentivo das pessoas me anima. Mas é tão difícil começar, são tantas as questões, tantos os empecilhos (ainda que inventados)... Eu quero escrever, mas aí: eu adoto uma cachorra filhote, eu brigo com minha mãe, eu tomo um Rivotril, tem uma festa, tô de ressaca, tem louça na pia, não posso faltar a academia, o computador tá velho, as pessoas em volta falam alto, o quarto tá bagunçado, começo a ver uma série, tô apaixonada por alguém, chamam pra tomar uma cerveja, tô com sono, tem um amigo de fora na cidade, tem Olimpíadas, ainda não tomei banho, tem que pintar a porta, resolver o frete, ajudar a amiga, fazer compras, ler as notícias, fazer as unhas, responder os comentários do Facebook, checar o Airbnb, ir à praia, subir para Friburgo, brigar mais com a mãe, almoçar com o pai, discutir com o síndico, ligar pro advogado, consertar a bicicleta, tirar dinheiro, ler um livro pra me inspirar, ter uma ideia genial, arrumar um emprego, trocar de profissão, pensar sobre o futuro, comprar presentes, mandar feliz aniversário, feliz dia do amigo, da árvore, do índio, do beijo, fora Temer... São tantos afazeres, que parece que uma vida não é o suficiente.

Bom, acho que comecei, né?

Não sei se alguém vai ler, não sei se vai fazer sucesso como as histórias que conto pessoalmente, se vai virar um livro, não sei se um dia serei uma escritora, mas enquanto isso, vou sendo uma “escrevedora”.E como dizem: um passo a frente e você não está no mesmo lugar.

Hey ho!



PS: Obrigada, Diego!

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