Tudo começou
assim:
Minha mãe
foi chamada na escola. Foi bastante receosa, pois eu não era de dar problema
nem defeito. Chegando lá, a diretora mostrou a ela um livrinho que eu tinha
escrito.
–“Guarde
este livro. Um dia ela será uma escritora.” – disse ela.
Minha mãe,
toda orgulhosa, tem o livro até hoje. Algo sobre reciclagem de papel, se não me
engano... E com gravuras! Minhas!! Mas
nem me perguntem, não faço ideia de como se recicla nem um post-it. Se eu
soubesse, talvez estivesse ganhando dinheiro com isso.
Pouco depois
disso, voltamos a morar no Rio, eu e minha mãe. Bem no meio do ano letivo, uma
loucura. Saí largando tudo e todos pelo caminho, sem entender bem o porquê, às
vésperas de completar 10 anos de idade. Me lembro de algumas despedidas marcantes, como a da professora de religião me
pedindo para que não deixasse de frequentar a igreja e de fazer a primeira
comunhão, que seria dali a uns dois meses. Chegando ao Rio, a primeira coisa
que pedi à minha mãe foi: “Por favor, não me obrigue!! Eu não quero!!!” Ela
deixou. Ufa!!
Me lembro da
despedida de meus três melhores amigos, quando subi as escadas do prédio
chorando, sem saber lidar com a situação. São Paulo já era minha cidade do
coração, onde eu fizera minhas primeiras amizades. Voltar à cidade natal sem
quase nenhum amigo, escola nova, dois dias antes do aniversário, no meio do ano
e cheia de sotaque paulista, era assustador. Voltando às despedidas, me lembro
vagamente daquela diretora me falando algo sobre continuar escrevendo. Eu NÃO
DEVERIA parar, pois tinha muito talento.
Os anos iam
passando na escola e na vida, inevitavelmente, e entre notas horríveis em
Física e Química, vinha sempre uma prova de Português para salvar. Redações
eram meu forte, afinal. Foram elas que salvaram todas as minhas provas de
História e Geografia, pois eu dominava a incrível arte de reescrever a pergunta
com outras palavras, intercalando palavras chaves como: “capitalismo”,
“globalização”, “revolução industrial”, “progresso” e ”guerra”. Nunca coube na minha cabeça a dimensão de uma guerra ou o que era um mol,
mas uma oração subordinada adverbial causal era tão evidente...
Sempre
gostei de escrever. Cartas, principalmente. Tive um relacionamento bastante
conturbado, que se manteve por muito mais tempo do que deveria, penso eu que,
talvez, fosse pelo prazer que eu tinha em escrever cartas e e-mails discutindo
a relação. Verdadeiros tratados e bíblias cagando regras, reclamações e lições
de moral. A realidade é que, no fundo me dava prazer e até orgulho de ver como
eu me expressava bem pela escrita. Falando sob pressão e estresse, sou
terrível, abominável. Mas escrevendo, eu conseguia chegar a pontos tão
interessantes, que muitas vezes, não acreditava que eu mesma escrevera aquelas
palavras. Era como uma auto-terapia.
Já com o
teatro, fui percebendo outro dom: fazer as pessoas rirem. Nunca me achei
engraçada. Na verdade nunca me preocupei com isso, nem parei para prestar
atenção ou resolver se era isso o que eu queria. Simplesmente aconteceu. Eu
contava histórias da minha vida e as pessoas gargalhavam . Até meu psicólogo
ria dos meus causos, e eu então, questionava se não era ele quem deveria estar me pagando pelo
show. Às vezes a história era até trágica, triste, mas o povo se divertia e
dizia: “Você TEM QUE fazer um stand-up comedy!!!”. Mas a responsabilidade de subir num palco
quase que com uma placa de “ria, por favor”, não era pra mim.
Aí juntou
essa coisa de escrever, com esse negócio de contar histórias, com minha veia
crítica (chata mesmo) sobre tudo e todos , minha visão singular e um tanto
peculiar do mundo, mais uma exigência exagerada de mim comigo mesma, e às vezes
me pegava longos minutos criando um texto de duas linhas para postar no
Facebook. Foram surgindo, então, vários comentários de amigos on e off-line,
dizendo que eu TINHA QUE ESCREVER UM LIVRO, porque os meus posts eram engraçados,
divertidos, sarcásticos... E eu logo pensava: “Ainda bem que essa pessoa não é
amiga de fulano e de beltrano... Se ela visse o que eles escrevem...”. Mas ok,
estou começando a entender que tem espaço pra todo mundo e gosto pra tudo, não
é mesmo?
E não,
gente, eu não TENHO QUE nada. A verdade é que eu QUERO. E o incentivo das
pessoas me anima. Mas é tão difícil começar, são tantas as questões, tantos os
empecilhos (ainda que inventados)... Eu quero escrever, mas aí: eu adoto uma
cachorra filhote, eu brigo com minha mãe, eu tomo um Rivotril, tem uma festa, tô
de ressaca, tem louça na pia, não posso faltar a academia, o computador tá
velho, as pessoas em volta falam alto, o quarto tá bagunçado, começo a ver uma
série, tô apaixonada por alguém, chamam pra tomar uma cerveja, tô com sono, tem
um amigo de fora na cidade, tem Olimpíadas, ainda não tomei banho, tem que
pintar a porta, resolver o frete, ajudar a amiga, fazer compras, ler as
notícias, fazer as unhas, responder os comentários do Facebook, checar o Airbnb,
ir à praia, subir para Friburgo, brigar mais com a mãe, almoçar com o pai,
discutir com o síndico, ligar pro advogado, consertar a bicicleta, tirar
dinheiro, ler um livro pra me inspirar, ter uma ideia genial, arrumar um
emprego, trocar de profissão, pensar sobre o futuro, comprar presentes, mandar
feliz aniversário, feliz dia do amigo, da árvore, do índio, do beijo, fora
Temer... São tantos afazeres, que parece que uma vida não é o suficiente.
Bom, acho
que comecei, né?
Não sei se
alguém vai ler, não sei se vai fazer sucesso como as histórias que conto
pessoalmente, se vai virar um livro, não sei se um dia serei uma escritora, mas
enquanto isso, vou sendo uma “escrevedora”.E como dizem: um passo a frente e
você não está no mesmo lugar.
Hey ho!
PS:
Obrigada, Diego!
Nenhum comentário:
Postar um comentário