segunda-feira, 31 de julho de 2017

O rapaz na cadeira de rodas


 Há algum tempo venho cruzando o caminho de um rapaz que anda numa cadeira de rodas. Quase todos os dias o vejo com seu acompanhante pelas ruas perto da minha casa. Ele é jovem, deve ter a minha idade, mais ou menos, e eu o acho muito bonito. Sempre que passo por ele tento disfarçar o olhar para não deixa-lo constrangido. Me lembro de quando precisei usar muletas por um tempo por causa de um pé quebrado ou tornozelo torcido. Bastava eu entrar num lugar que os olhares se voltavam para mim. Na rua, a mesma coisa. Parecia um misto de pena com expectativa de sei lá o que. Eu cair? Nunca entendi a quase hipnose que isso causa nas pessoas. Mas vivenciei o desconforto de estar naquela condição. Me dava vontade de falar: “Que foi? Eu quebrei o pé, só isso.” Mas era tão óbvio.

No caso deste rapaz, não é óbvio. Fico imaginando se sua condição é temporária ou irreversível. Seu olhar me parece triste, tímido e eu sempre tenho cuidado para não encará-lo muito. Hoje, o vi de novo, com seu acompanhante sorridente, sempre conversando. Eu estava de bicicleta e os avistei de longe, a quase um quarteirão de distância, vindo em minha direção. De repente, me deu uma vontade louca de gritar, quando estivéssemos passando lado a lado: “VOCÊ É LINDO!!” e sorrir para ele. Eu estava pedalando, então seria tudo muito rápido e, provavelmente, eu não conseguiria ver sua reação. Mas acredito que abriria um sorriso também. E talvez aquilo melhorasse seu dia, e até um pouquinho da sua autoestima. Eu tive tempo para pensar nisso tudo e ponderar. Então nos cruzamos. E eu fiquei quieta. Não tive coragem. Verdade que não saio distribuindo elogios aos gritos por aí normalmente. Aliás, tirando cantadas machistas, que não são, nem de longe, elogios, dificilmente vejo acontecer. Mas hoje foi diferente. Senti que seria um gesto de carinho, que poderia gerar algo bom para outra pessoa. Porém, não o fiz. Por não conhecê-lo e não saber como ele interpretaria, por medo de arriscar um ato tão ousado, mas, principalmente, porque crescemos cheios de amarras, restrições e limitações já pré impostas e nunca paramos para nos questionar se isto é razoável, se é assim mesmo que queremos ser e o que aconteceria se fizéssemos diferente. Não podemos ser espontâneos? E, neste caso, nem seria. Tive vários segundos para avaliar as consequências. Mas não. Mais uma palavra de carinho ficou guardada, escondida, porque algum dia, alguém resolveu que era para ser assim. E eu acreditei. Mais uma vez o “e se...” ganhou a cena. Quantos sorrisos não são dados, quantas pessoas não se conhecem, quantas histórias não são contadas, quantos sofrimentos não são evitados, quantas pessoas não reconhecem seu valor, simplesmente porque guardamos, egoistamente, nossas admirações? Alguns valores da infância realmente não deveriam se perder pelo caminho... Afinal , o que podemos, o que queremos e o que devemos fazer?

Apesar disso, algo me diz que um dia nos conheceremos, eu e o rapaz da cadeira de rodas. Talvez (tomara!!) ele nem precise mais da cadeira nesse dia. Talvez, por estar sem ela, eu nem o reconheça. Mas seja como for (e se for), eu gostaria de poder contar essa história pessoalmente a ele. Me faria bem e, acredito, a ele também. E não há sensação melhor do que a de fazer bem aos outros.

:)

domingo, 9 de julho de 2017

Príncipe


Lá estava eu, no auge dos meus 30 anos de idade, esperando a nave descer e a Xuxa entrar no palco. Não, não era década de 80... Era outubro de 2016. E este fenômeno só foi possível graças a um grande amigo, super ousado que um dia fez uma festa de aniversário que tomou proporções inimagináveis, até virar uma das maiores festas do Brasil, com direito a grandes shows. Nesse dia, era o da Xuxa. E eu, como típica baixinha que fui, estava lá, ansiosa. A pista onde eu estava, não estava abarrotada de gente, ainda dava pra circular tranquilamente sem se perder. Quando, de repente, avisto um rapaz LINDO, mas lindo mesmo. Meu queixo caiu. Minhas amigas nem me deram ouvidos. Acho que eu devo me encantar com frequência pelos estranhos que cruzam meu caminho (vide post anterior). Estava quase me recompondo, quando ele passou de volta. Num impulso, sem nem pensar, fui andando atrás dele. Não sei bem o porquê, já que dificilmente eu o abordaria. Muito menos sóbria como eu estava. Mas foi como se algo tivesse me empurrado, me forçado a seguir aquele instinto. Quando dei por mim, estávamos parados na mesma roda de pessoas. Isso porque um dos amigos dele, era meu amigo também. Como não amar esse mundo ovo nessas horas? Na verdade, fazia anos que não nos víamos e cheguei a ficar um pouco em dúvida se era de fato quem eu pensava. Mas era. Em menos de um minuto, eu estava sendo apresentada para  o rapaz que eu segui. Em menos de dois minutos, eu percebi que não teria chances com ele. O papo fluiu, porém. Me contou que morava em São Paulo, estava na cidade para ver o show, conversamos o suficiente para ver que era um cara bem legal. Mas logo voltei para onde meus amigos estavam. A pista lotou. Assistimos ao show e fomos embora, sem com que eu o encontrasse de novo. Vi da que segue.

Na semana seguinte, fui fazer, pela primeira vez uma endoscopia. Meus amigos me alertaram sobre os efeitos da pós anestesia. Uma chegou a me falar: “Cuidado. Quando eu fiz, saí da clínica e comprei um carro.” Medo. Fiquei imaginando o que aconteceria comigo. Será que eu fugiria para as Maldivas? Casaria com um anão? Nadaria no mar do Flamengo? Comeria azeitona? Socorro!!!!!!!!!! Pedi para a amiga que foi comigo que cuidasse para que eu não fizesse nenhuma besteira. Tudo certo. Saí direto pra casa, onde estava fora de perigo. Deitei na cama com o computador, abri o Facebook e... Opa!! Quem havia me adicionado?! O próprio. E quem estava online? Ele mesmo. E com quem eu conversei? Sim. E eu abri meu coraçãozinho grogue e me declarei, sim ou com certeza? Muito. E ainda assim continuamos conversando por dias, semanas, meses. Me confidenciou que, há anos, tinha um sonho. Me comprometi a ajudá-lo a realizar. Nos encontramos em São Paulo, dois meses depois, para assistir o mesmo show. Dessa vez, juntos. Amizade mais que  firmada, dois meses se passaram novamente, e ele retornou ao Rio e se hospedou na minha casa por uma semana. Foi quando descobriu o apelido carinhoso que dei a ele: Príncipe. Foram sete dias de muitas conversas sobre a vida, passado, presente, futuro, crenças, energias, o poder do universo... Criamos uma conexão muito legal. E não só uma vontade de que os planos dessem certo, mas também uma certeza. E, nesses planos, incluía morarmos juntos.

Pois bem. O universo conspirou MESMO!! Ele correu muito atrás do seu sonho. E assim, cada peça foi se encaixando e tudo aconteceu como num roteiro de cinema. Ele o realizou, com minha ajuda, como prometido. E nós estamos morando juntos!


Acho esta história tão incrível!! Ela é a prova de que pequenas ações podem refletir em algo muito maior no futuro. E que ousar sair um pouco da caixa faz bem e pode ser surpreendentemente bom!! No mínimo gera uma super história para contar e influenciar outras pessoas. E sabe-se lá o que elas farão com isso e onde isso vai dar. São tantas borboletas batendo asas...

quarta-feira, 31 de maio de 2017

O cara do áudio

Eu não tinha mais o que fazer da vida e um amigo me chamou para assistir à gravação de um programa de auditório. E antes que me julguem, pensando que era o do Faustão, vou me defendendo: era o “Amor e Sexo” (bem melhor!). A verdade é que, quando criança, nunca fui ver os programas da Xuxa e cresci meio frustrada com isso, então achei que a Fernanda Lima poderia ser uma boa. Mas só achei mesmo. Não que tivesse sido horrível (não foi!!), mas é uma experiência para se ter apenas uma vez na vida. E, definitivamente, não foi culpa da Fernanda. Além do tempo para chegar lá, tem uma espera de quatro décadas numa sala, junto com as galeras das caravanas. Sim, CA.RA.VA.NAS. Em pleno século 21! Mas era uma aventura antropológica, então mantive o bom humor. Comi até o lanchinho.

Estávamos eu, um amigo e cerca de uns 6 amigos dele, o que já tornou a coisa divertida. Estávamos todos num mix de animação e vergonha (alheia e própria). Assim que entramos no estúdio, descobri que as pessoas mais “bonitas”, sentavam embaixo, onde as câmeras filmavam, e as menos agraciadas, ficavam na parte de cima da arquibancada. Eu não queria saber se me achavam feia ou bonita, só queria ter certeza de que não apareceria. Me escondi na última fileira! A organizadora, porém, pediu que eu descesse dois andares, mas dei meu jeito de ficar na penúltima, colada na grade, ao lado da equipe técnica para não ser flagrada.

Começou a gravação. Bailarinos, atores, luzes, música, tudo muito bacana... Corta!! Volta!! Repete. E assim foi, algumas vezes até eu mudar o foco do palco para os bastidores. E lá estava ele: o cara do áudio!! Fiquei hipnotizada. Era muito lindo!! E estávamos separados por... quase nada, já que eu sentei ali, coladinha na equipe!! Não sei o que me deu, mas não conseguia parar de olhá-lo e queria, de qualquer forma, que ele me visse. A partir dali, o programa, para mim, passou a se chamar: O CARA DO ÁUDIO. Era tudo o que eu via e prestava atenção. Logo descobri que não era só eu. Meu amigo e um dos meninos que estavam com a gente, também estavam de olho no rapaz. Mas eu não estava só de olho, estava apaixonada, como uma adolescente se apaixona por um ídolo pop. Ridículo, mas aconteceu. E ele? Nem desconfiava da minha existência!! Acompanhei seus passos durante toda a gravação. Mas, por um segundo, me distrai e chamaram alguém no auto falante! Por sorte, meu amigo escutou o nome e reparou que ele entrou para consertar o microfone da apresentadora. E não era um nome muito comum.

Terminada a gravação, saí de lá obstinada, decidida a conhecê-lo. Mas antes eu tinha que descobrir algo além do nome. Veio a moça do figurino falar com a gente, e fui logo pedindo informações sobre ele. Ela, de cara fechada, prontamente me responde: “É casado”. Pensei: “Que azar! E pela cara dela, é a esposa!!” Mas peraí! Não tinha aliança... Ela devia gostar dele. Fui pra casa pensando em mil estratégias para achá-lo nas redes sociais. Desta vez São Zuckerberg das Sugestões de Amigos não foi nada eficaz. Tive que ir por meios próprios, sobre os quais não entrarei em detalhes por motivos de: vão achar que sou agente da CIA ou psicopata. Imagina, eu, da CIA! Haha! Jamais!! A pesquisa durou alguns dias. Poucos. O que importa é: achei o dito cujo!! Não pensei duas vezes a adicionei. Ele, antes de aceitar, perguntou quem eu era. Trocamos algumas mensagens até que ele disse que tinha uma namorada. Imediatamente, retirei o pedido de amizade, me desculpei e esqueci a história.

Exato um ano depois, contando essa história para alguém, me lembrei dele. Como quem não quer nada (querendo tudo), procurei-o novamente. Desta vez, estava solteiro. Conversamos, trocamos telefone e, dois dias depois, marcamos um encontro. Eu não estava acreditando. Parecia novelinha teen! E, embora eu não tivesse mais idade para isso, estava adorando! Foi tudo ótimo, ele era realmente lindo, gente boa, tímido (!!) e gostou de mim!! Antes de nos despedirmos, porém, confessou que estava saindo com alguém há algum tempo, mas que não chegava a ser um namoro e que ele preferia estar apenas com uma pessoa. Segundo ele, não sabia “administrar” duas. Justo. Fui a escolhida! Eu só me encantava mais!! Trocávamos mensagens o dia inteiro, saíamos, aprendi a jogar sinuca, conheci até a mãe! Ele se declarava, estava apaixonado também! Tudo indo muito bem, obrigada! Até que... (tem que ter, né?) Um outro lado dele começou a aparecer... Reações desproporcionais, amigos estranhos, ciúmes, insegurança, desconfiança... Tudo o que ele escondeu de início, apareceu em avalanche e em menos de um mês!! Fui relevando até onde dava, porque é isso que gente apaixonada faz, né?

 Tínhamos decidido passar o Reveillon juntos, numa festa que eu havia combinado com alguns amigos. Chegando lá as paranoias só aumentavam! O leque de absurdos era enorme, nem vale à pena começar. Foi uma noite um tanto estressante. Fomos embora, “para evitar a fadiga”, como diria o “filósofo”.

Dia 1/1, 8h da manhã. Acordo com o moço arrumando suas coisas dizendo que não queria mais nada comigo. A justificativa: tenho muitos amigos gays, e segundo ele gays se aproveitam das amigas. Na sua concepção, como ele mesmo disse, eu era “pole dance de gays”. Criativo, não? E preconceituoso. Além disso, tenho outro defeito seríssimo: como boa carioca, gosto de funk. Até hoje não entendi onde isso determina caráter ou afeta alguém, mas enfim... Cada qual na sua enfermaria, não é mesmo? Diante de argumentos tão incoerentes e mal elaborados, mal consegui discutir. O conto de fadas, tornou-se um teatro do absurdo. Nada fazia sentido. Comecei o ano me livrando. Mandei de volta ao mar a oferenda.

Passei algum tempo digerindo tudo. E hoje, destaco dois pontos, que ficaram como aprendizado:

O melhor conselho que tive: “Em relacionamentos, primeiro: eu, segundo: eu, terceiro: eu, quarto: o meu retrato.”

O melhor conselho que posso dar: Cuidado com seus desejos. Eles podem se realizar.





sexta-feira, 26 de maio de 2017

NY, cheguei chegando!!

Minha primeira vez em NY. Ao contrário do que se espera, eu estava muito triste. Tinha comprado as passagens para viajar com meu namorado, mas terminamos antes da viagem e sem chances de volta. Gastei rios de dinheiro para trocar passagens, itinerários, fora toda a dor do momento. Um grande amigo brasileiro que mora lá, aceitou me receber por duas semanas. Dias antes da viagem, me disse que estava em Los Angeles, mas que eu não me preocupasse, pois voltaria um dia antes da minha chegada. Não me preocupei. Lá fui eu.

Já no aeroporto de NY, o primeiro susto. Cães farejadores. E eu com uma mala cheia de farinha de tapioca e farinha de mandioca (presentes que os amigos brasileiros do próximo destino haviam pedido). Pensei comigo: “Com certeza os policiais vão achar que é cocaína!! Só me falta chegar sendo presa!!”
Não podia dar bandeira, nem ficar perto dos cães. A alguns metros de mim, pediram que uma menina abrisse a mala. Ela tinha comida dentro. Mas até que eu explicasse... Opa! Minhas malas na esteira!! Peguei e tchau!!

Saindo do aeroporto, a primeira emoção: neve!! Nunca tinha visto ao vivo!! Que lindo era!! Tudo branco em volta... Muito branco... Tinha havido uma nevasca no dia anterior, completamente fora de época. Era março. Um frio de congelar pensamento. Peguei um táxi e fui para o endereço dele. No caminho, o motorista me emprestou o telefone para ligar para meu amigo e avisar que eu estava chegando. Mas ele não atendeu. Chegando na rua, vários prédios idênticos, exatamente como ele havia descrito. Eu deveria procurar o que tinha uma placa de anúncio de uma cartomante. Lá estava. Paguei, agradeci e fui até o interfone. Ninguém atendeu. Meu celular, sem sinal, obviamente. Fiquei parada com três malas, uma mochila e um casaco de esquimó. Em frente a mim, um Starbucks (claro!). Quando pensei em entrar, aparece um sujeito mal-encarado com uma estrela tatuada no rosto, perguntando o que eu estava fazendo ali. Expliquei minha situação e ele me deixou entrar. Era o zelador.

Subi até o andar, mas as portas não tinham numeração. Eu sabia que o número do apartamento era algo do tipo 2RE. E que R significava que era de fundos e E, que era leste. Mas como já tinha subido dois lances de escada, não sabia mais onde era frente e onde era atrás, muito menos leste e oeste. Me virei em bússola, fazendo movimentos como uma aeromoça que dá instruções para caso de acidente e cheguei à uma conclusão. Toquei a campainha várias vezes e nada. Decidi então bater na porta de algum vizinho para pedir a senha do Wi-fi para que eu pudesse pelo menos entrar na internet e ver se ele tinha mandado algum recado. Tinham 3 portas vizinhas. Não sei bem por quê, escolhi a que ficava do outro lado do corredor. Torci para que fosse a cartomante e que ela visse nas cartas onde estava meu amigo. Bati. Uma moça jovem abriu. Não tinha cara de cartomante. Comecei a me explicar. Ela logo perguntou de onde eu era, respondi que era brasileira. E ela... também!!! Carioca, como eu. Como naquela época eu ainda não sabia que quem estava no comando do mundo era o Zuckerberg, agradeci a Deus. Pronto, respirei. Me chamou para entrar e tomar um copo de açaí. Sim, açaí. Muita sorte! Quase abri um pacote de farinha para fazer uma tapioca!! Me explicou que aquele apartamento era da amiga, também brasileira, e que fazia poucos dias que estava lá, de favor, pois perdera seu emprego naquela semana. Em geral, naquele horário, a casa estava vazia. Ou seja, sorte a minha!!

Assim que liguei meu celular, recebi uma mensagem enorme dele, dizendo que havia ficado preso em Los Angeles por conta da nevasca em NY. Cancelaram todos os voos e ele estava aguardando liberação para voltar. Uma amiga dele tinha a chave da sua casa e ele me passou o telefone dela, para que eu entrasse em contato. Pelo nome, não dava para saber se era brasileira ou americana. Ligamos. Brasileira. A moça do apartamento, me explicou como chegar ao endereço, disse para que eu deixasse as malas lá até que eu voltasse. Chego na porta da amiga, toco a campainha, sou recebida por uma moça LINDA, com um rosto que não me era nada estranho. Logo ela esclareceu: atriz famosa de TV do Brasil. Mas, a essa altura, minha cara já tinha congelado de frio para que eu pudesse expressar qualquer surpresa. Peguei a chave, voltei, me instalei e esperei por ele, que chegou à noite.

Contei as aventuras da minha chegada e ele me disse que não conhecia suas vizinhas, mas que deveríamos marcar algo com elas para nos conhecermos todos e agradecer devidamente. 

Uma semana depois, fomos jantar. Éramos seis ao todo (elas levaram duas amigas). A moça que me recebeu, era muito espontânea e divertida. Lá pelas tantas, meu amigo comentou que ela deveria ser atriz. Eis que contou-nos que já participara de um teste para uma minissérie de seu avô, mas que não levava jeito pra coisa. Por isso resolveu ser engenheira mesmo. Nós dois, atores, não hesitamos em perguntar quem era seu avô. Ela, então, como se quisesse fugir do assunto, respondeu quase se atropelando: “Ah, ele já morreu, se chamava Nelson Rodrigues. Mas aí na faculdade de engenharia eu...”.
Parem as máquinas!!!!!!!! Ele, perplexo. Eu, de imediato, a interrompi: “Nelson Rodrigues... Nelson Rodrigues?! O próprio??”
Sim, era ele. O Papa do teatro brasileiro!! Enchemos a menina de perguntas e, em troca, ouvimos várias histórias e fofocas da família!!

Durante os 15 dias em NY, algumas outras coincidências aconteceram. Nenhuma tão legal quanto essa, que certamente deu um toque especial à minha viagem e me rendeu novas amizades. Além das vizinhas, a linda atriz virou uma amiga muito querida, após um porre memorável que tomamos juntas numa festa! Mas essa é outra história...


Agora pense: com tantas portas em NY, acertei em cheio!! Um brinde à cara de pau brasileira!!

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Aquela história de como a gente se conheceu

Meados de janeiro de 2010. Ou 11...? Chego num bar para encontrar amigos e com eles, um rapaz que não conheço. Bêbado. Conversa vai, conversa vem, ele conta que está muito preocupado, pois irá substituir um ator num espetáculo em Brasília dali a duas semanas e não teria ensaio. Estava precisando de alguém para bater texto com ele e estava disposto a pagar pela ajuda. Eu, que estava de férias da escola de teatro, entediada e brigada com minha mãe, aceitei na hora. Ele, bêbado, pegou o texto (sim, ele estava com o texto no bar. Que desespero, né?) e disse:

- Quero ver se você lê bem. Não dá pra ensaiar com quem não sabe ler direito.

Ou algo assim. Fizemos uma leitura rápida e pronto – contratada. Ah, sim, ele tinha mais um aviso:

- E não vai de sainha não, porque eu sou casado e minha esposa é  brava.

Pensei comigo por quê raios eu iria de sainha ensaiar na casa de alguém que acabei de conhecer... Mas enfim...
Logo a esposa chegou no bar e antes que ele pudesse introduzir o assunto, um amigo em comum foi me apresentando para ela como “a que vai ajudar ele a decorar o texto”. Pronto. Calcule o estresse.

Desafio aceito. Dia seguinte, 10h em ponto estava batendo na porta da casa do moço e da fera. Eu, como boa ciumenta, respeito os ciúmes alheios. Mas era verão no Rio de Janeiro. 80 graus à sombra. Desculpa, né? Short era o mínimo. Confesso que me tremi um pouco de medinho.

Entrei, sentei. A moça vinha saindo para trabalhar, se despediu brava, bateu a porta, abriu de novo, chamou o marido e começou o barraco no corredor do prédio. Eu só pensava numa saída estratégica, mas pular do oitavo andar estava fora de questão. Fingi, então, que eu era uma planta e fiquei imóvel e muda.

Ele voltou. Pedi desculpas. Não sei bem por quê, mas é sempre bom se desculpar, né? Começamos.

Primeiro dia – check!

Segundo dia... Mais ou menos a mesma coisa. Mas não precisei me fingir de nada... Ela só bateu a porta. Que aquilo não daria certo, estava claro. Mas comecei a perceber que, talvez, desse muito errado. E ainda dava tempo de cair fora, ou tentar alguma alternativa que não arriscasse tanto minha vida. Sugeri que os próximos encontros fossem em outro lugar, talvez ao ar livre, entre a minha casa e a dele, onde eu pudesse ir de bicicleta. Mas fui obrigada a concordar que, com aquele calor desumano, nós precisávamos de ar condicionado e a casa dele, era a melhor opção mesmo. Disse-me que tinha também uma casa em Petrópolis e que poderíamos combinar de subir juntos um dia, eu, ele e a esposa. Já imaginei meu cadáver desovado na estrada. Não, não, não, obrigada. Ficamos por aqui mesmo.

Eu tinha medo de passar de bicicleta pelo túnel que liga o Leme à Botafogo. Então ele, para me convencer de que não era perigoso, sugeriu me encontrar no dia seguinte na praia de Copacabana, de bicicleta para irmos juntos. Topei.

Cheguei na estátua do Drummond, encontrei o moço e seguimos. Não mais que 2 minutos. BUUUMM!!! O pneu da minha bicicleta estourou!!! O lugar mais próximo para consertar era no Arpoador. Toca pra lá. A pé. Meia hora de conserto. Morri em R$40,00. Este trabalho já estava me saindo caro. Seguimos no sol de quase meio dia.

Chegamos no prédio. Hoje era o primeiro dia livre da esposa, depois de um período longo de um freela. Ela estava em casa. Eu, morta, suada, exausta. Ele, compadecido, perguntou se eu gostaria de dar um mergulho na piscina do prédio enquanto ele subia para explicar a demora e acalmar a fera. Mas vamos e venhamos, quem iria acreditar nessa história de pneu furado, não é mesmo?? Ainda bem que guardei a nota fiscal do serviço. Não sou boba. Fui dar meu mergulhinho, quando ele desce, dizendo que ela não estava abrindo a porta. Eu, me sentindo um destruidora de lares, emprestei meu celular para ele ligar para casa. Pronto, atendeu. Ele tomou uma chuveirada e subimos. Molhados. De biquíni. Com a nota fiscal na mão! Explicamos tudo, ouvimos o sermão e... ao trabalho!!

Hora do almoço. Sentamos os três à mesa e pensei: tenho duas opções. Ou finjo que sou invisível, ou tento domar a fera. Puxei papo. Fluiu. Só sei que, ao final deste dia, ela estava me oferecendo vinho e me convidando para sua casa em Petrópolis!!
Viramos amigas. O carnaval foi lá, na casa, com muitos amigos deles. Outros tantos feriados e férias passei lá também. Ajudei-o em uma outra peça e depois numa novela. Virei sua assistente oficial, até ser substituída por um aplicativo que fazia meu trabalho por dois dólares.

A história virou piada entre a gente. E estou feliz por tê-la escrito. Assim, posso deixar registrada a versão verdadeira, para que nunca mais, ao contar, eles digam que fui de sainha. Porque eu não fui.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

DEIXE A ESQUERDA LIVRE!!!!

DEIXE A ESQUERDA LIVRE

Minha mãe sempre me disse: “Política, futebol e religião não se discute.” De todos os conselhos que ela já me deu na vida, acho que este é o único que sigo à risca até hoje. Portanto, este não é um post sobre política. A esquerda aqui é OUTRA!!!

Dito isto...

Pelo amor de... qualquer amor, você que não tá com pressa...
Você que tá desligado da vida...
Você que é auto centrado...
Você que tá abraçadinho com alguém e quer matar os outros de inveja...
Você que tá com criança...
Você que é egoísta mesmo...
Você que não sabe a diferença entre direita e esquerda...
Você que é rebelde, com ou sem causa...
Você que tá embalado pelo som do seu fone de ouvido...
Você que tá a passeio (na rua ou na vida)...
Você que não tem bom senso (mas deveria)...

DEIXE A ESQUERDA LIVRE!!!!!!!!!!!!

O dia em que todos perceberem como a vida é curta para ficar preso na escada rolante, o mundo terá menos gente querendo matar os outros. – disse meu lado apressado e impaciente.
Quando eu era criança, adorava os Jetsons. Achava o máximo aquelas casas suspensas, as naves, os robôs falantes, mas principalmente a esteira rolante que eles tinham em casa. Ninguém caminhava, todo mundo ia devagar na esteira. Em CASA! Até que elas (as esteiras)  surgiram no mundo real, em aeroportos e até no metrô. Legal, né? Mas aí tem uma galera que acha que tá na casa do Jetsons. Não satisfeitos em pararem para dar uma voltinha de esteira, eles escolhem fazer isso do lado ESQUERDO. Aí, eu me pergunto: por que?! Onde tá o semancol dessa gente que tem tanto prazer em atrapalhar o fluxo?! Eu entendo aquela esteira como algo pra ajudar quem tem pressa a ir mais rápido (por isso elas estão em aeroportos e estações de metrô, e não nas calçadas, na orla, nos shoppings...). Salvo idosos e pessoas com alguma dificuldade de locomoção, o que leva alguém a parar na esteira? Nem paisagem tem, para apreciar. Desculpa gente, mas não. Apenas NÃO. Nessas horas, tudo o que eu queria era uma vuvuzela, bem barulhenta, pra acordar o bom senso desse povo.
Certo dia, lancei o tema no meu Facebook. Eis que...


 “Menos no shopping, né?! Metrô e tal, é claro, mas o infeliz que tá dentro de um shopping ultrapassando os outros na escada rolante é o mesmo que buzina no trânsito até chegar em casa pra ver novela.” – disse ele, polemizando.

“Cara, em TODOS os lugares. Em TODOS!!! Não tem motivo pra ocupar tudo. Cada um com suas pressas. Já vi muita novela... Sem julgamento.” – disse eu.

“Mas tá julgando quem vai pro shopping pra passear relaxado com a família. Rs!” – provocou ele.

“Relaxa do lado direito, gente!!!!” – implorei.

“Sei la... sempre andei do lado direito. Mas num shopping, se eu tô com pressa, não forço ultrapassagem, se realmente eu estivesse com pressa não estaria dentro de um shopping... É tipo buzinar dentro do estacionamento. Dá vontade de sair do carro, ir até a porta do estressadinho, acender um baseado e passar...” – sugeriu ele.

Mas e se você trabalhasse no shopping e estivesse atrasado? E se você perdeu uma criança no shopping e tá desesperado? E se você tá atrasado pro cinema? E se estiver apertado para ir ao banheiro? E se seu pager do Outback vibrou? E se você tá fugindo de um chato que viu no outro andar? E se você só entrou 14 minutos  para não pagar estacionamento e o tempo tá acabando? E se sei lá, mil coisas? Deixa a esquerda livre!!! Por favor, nunca te pedi nada!!” – agonizei!!

“Hahahahahahah mas eu ja deixo!!! Hahahahahahaa nao tenho namorada e nem família. Só acho que as pessoas que estão em um ambiente de descontração não são culpadas dos problemas do mundo! Hahahahaha” – disse ele, rindo, sem imaginar metade do que se passou pela minha cabeça ao ler isto.

Todo mundo é culpado dos problemas do mundo. Mas isso é outro papo. Só acho que muito ajuda quem pouco atrapalha. Do lado esquerdo ou do lado direito, você vai demorar o mesmo tempo pra chegar, então colabora com o atrasado desesperado e deixa a c@R@£h@ da esquerda livre peloamordavacagerse!!!!” – morri.


quinta-feira, 28 de julho de 2016

Cachorrólatras

Quanto mais eu conheço as pessoas, mais eu gosto do meu cachorro. É clichê, mas para mim, é bem assim que funciona. Amo animais, mas sou completamente apaixonada por cachorros. Essas criaturas bem humoradas, companheiras, fiéis, carinhosas, sinceras, em quem não vejo nenhum defeito!!

Tenho uma cachorra, e como a grande maioria dos donos apaixonados, a trato como membro da família. E não dá para ser diferente. É comum entre os donos observar características de humanos (mesmo que imaginárias)  nos seus bichinhos e, assim, tratá-los quase que de igual para igual. Essa relação, sendo sã e não passando dos limites do bom senso, me diverte. Minha “filha”, por exemplo, tem um colarzinho que fiz para ela e às vezes passeia por aí desfilando com ele.

Na praça onde passeamos, os donos de cachorros se conhecem pelos nomes... dos cachorros! Sei quem são os donos do Bob, do Thunder, do Petrus, da Nina, da Tina... Mas não sei o nome de nenhum deles. Também acabei me tornando amiga dos moradores de rua que dormem na praça e adotam cachorros. Assim eu conheci o Bob Marley (que é apelido, porque o nome mesmo é Beethoven), a Sophia Loren, o Diamante e o Fiel. Então, inevitavelmente, me tornei a famosa: Dona da Jolie.

De nossos passeios me lembro de inúmeras histórias divertidas, mas uma em particular, eu gosto muito de contar. Aconteceu há uns anos, quando, ao chegarmos à praça, encontramos um conhecido que, assim como eu, também perdeu sua identidade e se tornou o Dono da Valentina e do Frederico, seus buldogues franceses. Fui cumprimentá-los, como sempre faço e percebi que a Valentina não estava com eles, o que já me dá um receio de perguntar e ouvir uma notícia triste. Ele então me contou que ela estava em SP, fazendo um tratamento de coluna, pois, devido a seu peso, acabou tendo um nervo pinçado e precisava de fisioterapia. Contou que, apesar de tudo, ela estava bem, sendo tratada num spa, por um especialista, para voltar nova. Qualquer um que passasse e ouvisse um pedaço da conversa, teria certeza de que a Valentina em questão era um ser humano. A conversa fluía, quando de repente, ele olha para trás de mim e grita: “Frederico, NÃO!!!”
Tarde demais. Frederico estava me usando como seu poste particular. Urinou na minha perna. Poderia ter ficado chateada, com raiva, não fosse a reação do dono, que deu uma bronca daquelas! Ele dizia: “Frederico, você está maluco?! Ela não é uma árvore!! Não pode isso, uma pessoa mijar na outra!!! Que horror!! Eu não estou achando graça nenhuma!!!!”
Isso tudo intercalado de mil pedidos de desculpa. Mas eu não conseguia parar de rir daquela bronca tão cheia de regras de conduta. Ora, ele estava apenas querendo me marcar como território dele. No fim das contas me senti lisonjeada.

A verdade é que os bichos não tem maldade. Aposto que Frederico estava com a melhor das intenções quando me escolheu para fazer xixi. Para mim não foi agradável, claro, mas valeram boas risadas, este texto e um prêmio na loteria (sim, porque de tanto ouvir que isso era sorte, joguei e ganhei... R$3,00....).

Eu questiono muito tudo e todos que cismam em dizer que os seres humanos são os mais evoluídos  graças à sua capacidade de raciocínio.  Sei não, hein... Pense bem... Não fosse isso,  haveria guerras, corrupções, poluição, efeito estufa, desigualdade social e tantos, tantos outros problemas? Há bens que vem para males.

Às vezes me pego pensando no que aconteceria com o planeta caso fossem extintos os seres humanos. E o que aconteceria caso fossem extintos os animais. Qual o melhor cenário? Viagens minhas... (Respostas óbvias.)

Mas... Antes que eu seja apedrejada, ou este texto vire uma filosofia-boring-nonsense-de-bar, me defendo. Não levanto bandeira desta minha utopia. Como dizem por aí: “Aceita que dói menos.”. É o que faço. Afinal, o que não tem remédio...


Cabe a mim amar os animais, admirar as pessoas que prezam por eles e continuar sonhando com a salvação de todos os cachorros de rua!