quarta-feira, 31 de maio de 2017

O cara do áudio

Eu não tinha mais o que fazer da vida e um amigo me chamou para assistir à gravação de um programa de auditório. E antes que me julguem, pensando que era o do Faustão, vou me defendendo: era o “Amor e Sexo” (bem melhor!). A verdade é que, quando criança, nunca fui ver os programas da Xuxa e cresci meio frustrada com isso, então achei que a Fernanda Lima poderia ser uma boa. Mas só achei mesmo. Não que tivesse sido horrível (não foi!!), mas é uma experiência para se ter apenas uma vez na vida. E, definitivamente, não foi culpa da Fernanda. Além do tempo para chegar lá, tem uma espera de quatro décadas numa sala, junto com as galeras das caravanas. Sim, CA.RA.VA.NAS. Em pleno século 21! Mas era uma aventura antropológica, então mantive o bom humor. Comi até o lanchinho.

Estávamos eu, um amigo e cerca de uns 6 amigos dele, o que já tornou a coisa divertida. Estávamos todos num mix de animação e vergonha (alheia e própria). Assim que entramos no estúdio, descobri que as pessoas mais “bonitas”, sentavam embaixo, onde as câmeras filmavam, e as menos agraciadas, ficavam na parte de cima da arquibancada. Eu não queria saber se me achavam feia ou bonita, só queria ter certeza de que não apareceria. Me escondi na última fileira! A organizadora, porém, pediu que eu descesse dois andares, mas dei meu jeito de ficar na penúltima, colada na grade, ao lado da equipe técnica para não ser flagrada.

Começou a gravação. Bailarinos, atores, luzes, música, tudo muito bacana... Corta!! Volta!! Repete. E assim foi, algumas vezes até eu mudar o foco do palco para os bastidores. E lá estava ele: o cara do áudio!! Fiquei hipnotizada. Era muito lindo!! E estávamos separados por... quase nada, já que eu sentei ali, coladinha na equipe!! Não sei o que me deu, mas não conseguia parar de olhá-lo e queria, de qualquer forma, que ele me visse. A partir dali, o programa, para mim, passou a se chamar: O CARA DO ÁUDIO. Era tudo o que eu via e prestava atenção. Logo descobri que não era só eu. Meu amigo e um dos meninos que estavam com a gente, também estavam de olho no rapaz. Mas eu não estava só de olho, estava apaixonada, como uma adolescente se apaixona por um ídolo pop. Ridículo, mas aconteceu. E ele? Nem desconfiava da minha existência!! Acompanhei seus passos durante toda a gravação. Mas, por um segundo, me distrai e chamaram alguém no auto falante! Por sorte, meu amigo escutou o nome e reparou que ele entrou para consertar o microfone da apresentadora. E não era um nome muito comum.

Terminada a gravação, saí de lá obstinada, decidida a conhecê-lo. Mas antes eu tinha que descobrir algo além do nome. Veio a moça do figurino falar com a gente, e fui logo pedindo informações sobre ele. Ela, de cara fechada, prontamente me responde: “É casado”. Pensei: “Que azar! E pela cara dela, é a esposa!!” Mas peraí! Não tinha aliança... Ela devia gostar dele. Fui pra casa pensando em mil estratégias para achá-lo nas redes sociais. Desta vez São Zuckerberg das Sugestões de Amigos não foi nada eficaz. Tive que ir por meios próprios, sobre os quais não entrarei em detalhes por motivos de: vão achar que sou agente da CIA ou psicopata. Imagina, eu, da CIA! Haha! Jamais!! A pesquisa durou alguns dias. Poucos. O que importa é: achei o dito cujo!! Não pensei duas vezes a adicionei. Ele, antes de aceitar, perguntou quem eu era. Trocamos algumas mensagens até que ele disse que tinha uma namorada. Imediatamente, retirei o pedido de amizade, me desculpei e esqueci a história.

Exato um ano depois, contando essa história para alguém, me lembrei dele. Como quem não quer nada (querendo tudo), procurei-o novamente. Desta vez, estava solteiro. Conversamos, trocamos telefone e, dois dias depois, marcamos um encontro. Eu não estava acreditando. Parecia novelinha teen! E, embora eu não tivesse mais idade para isso, estava adorando! Foi tudo ótimo, ele era realmente lindo, gente boa, tímido (!!) e gostou de mim!! Antes de nos despedirmos, porém, confessou que estava saindo com alguém há algum tempo, mas que não chegava a ser um namoro e que ele preferia estar apenas com uma pessoa. Segundo ele, não sabia “administrar” duas. Justo. Fui a escolhida! Eu só me encantava mais!! Trocávamos mensagens o dia inteiro, saíamos, aprendi a jogar sinuca, conheci até a mãe! Ele se declarava, estava apaixonado também! Tudo indo muito bem, obrigada! Até que... (tem que ter, né?) Um outro lado dele começou a aparecer... Reações desproporcionais, amigos estranhos, ciúmes, insegurança, desconfiança... Tudo o que ele escondeu de início, apareceu em avalanche e em menos de um mês!! Fui relevando até onde dava, porque é isso que gente apaixonada faz, né?

 Tínhamos decidido passar o Reveillon juntos, numa festa que eu havia combinado com alguns amigos. Chegando lá as paranoias só aumentavam! O leque de absurdos era enorme, nem vale à pena começar. Foi uma noite um tanto estressante. Fomos embora, “para evitar a fadiga”, como diria o “filósofo”.

Dia 1/1, 8h da manhã. Acordo com o moço arrumando suas coisas dizendo que não queria mais nada comigo. A justificativa: tenho muitos amigos gays, e segundo ele gays se aproveitam das amigas. Na sua concepção, como ele mesmo disse, eu era “pole dance de gays”. Criativo, não? E preconceituoso. Além disso, tenho outro defeito seríssimo: como boa carioca, gosto de funk. Até hoje não entendi onde isso determina caráter ou afeta alguém, mas enfim... Cada qual na sua enfermaria, não é mesmo? Diante de argumentos tão incoerentes e mal elaborados, mal consegui discutir. O conto de fadas, tornou-se um teatro do absurdo. Nada fazia sentido. Comecei o ano me livrando. Mandei de volta ao mar a oferenda.

Passei algum tempo digerindo tudo. E hoje, destaco dois pontos, que ficaram como aprendizado:

O melhor conselho que tive: “Em relacionamentos, primeiro: eu, segundo: eu, terceiro: eu, quarto: o meu retrato.”

O melhor conselho que posso dar: Cuidado com seus desejos. Eles podem se realizar.





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