sexta-feira, 26 de maio de 2017

NY, cheguei chegando!!

Minha primeira vez em NY. Ao contrário do que se espera, eu estava muito triste. Tinha comprado as passagens para viajar com meu namorado, mas terminamos antes da viagem e sem chances de volta. Gastei rios de dinheiro para trocar passagens, itinerários, fora toda a dor do momento. Um grande amigo brasileiro que mora lá, aceitou me receber por duas semanas. Dias antes da viagem, me disse que estava em Los Angeles, mas que eu não me preocupasse, pois voltaria um dia antes da minha chegada. Não me preocupei. Lá fui eu.

Já no aeroporto de NY, o primeiro susto. Cães farejadores. E eu com uma mala cheia de farinha de tapioca e farinha de mandioca (presentes que os amigos brasileiros do próximo destino haviam pedido). Pensei comigo: “Com certeza os policiais vão achar que é cocaína!! Só me falta chegar sendo presa!!”
Não podia dar bandeira, nem ficar perto dos cães. A alguns metros de mim, pediram que uma menina abrisse a mala. Ela tinha comida dentro. Mas até que eu explicasse... Opa! Minhas malas na esteira!! Peguei e tchau!!

Saindo do aeroporto, a primeira emoção: neve!! Nunca tinha visto ao vivo!! Que lindo era!! Tudo branco em volta... Muito branco... Tinha havido uma nevasca no dia anterior, completamente fora de época. Era março. Um frio de congelar pensamento. Peguei um táxi e fui para o endereço dele. No caminho, o motorista me emprestou o telefone para ligar para meu amigo e avisar que eu estava chegando. Mas ele não atendeu. Chegando na rua, vários prédios idênticos, exatamente como ele havia descrito. Eu deveria procurar o que tinha uma placa de anúncio de uma cartomante. Lá estava. Paguei, agradeci e fui até o interfone. Ninguém atendeu. Meu celular, sem sinal, obviamente. Fiquei parada com três malas, uma mochila e um casaco de esquimó. Em frente a mim, um Starbucks (claro!). Quando pensei em entrar, aparece um sujeito mal-encarado com uma estrela tatuada no rosto, perguntando o que eu estava fazendo ali. Expliquei minha situação e ele me deixou entrar. Era o zelador.

Subi até o andar, mas as portas não tinham numeração. Eu sabia que o número do apartamento era algo do tipo 2RE. E que R significava que era de fundos e E, que era leste. Mas como já tinha subido dois lances de escada, não sabia mais onde era frente e onde era atrás, muito menos leste e oeste. Me virei em bússola, fazendo movimentos como uma aeromoça que dá instruções para caso de acidente e cheguei à uma conclusão. Toquei a campainha várias vezes e nada. Decidi então bater na porta de algum vizinho para pedir a senha do Wi-fi para que eu pudesse pelo menos entrar na internet e ver se ele tinha mandado algum recado. Tinham 3 portas vizinhas. Não sei bem por quê, escolhi a que ficava do outro lado do corredor. Torci para que fosse a cartomante e que ela visse nas cartas onde estava meu amigo. Bati. Uma moça jovem abriu. Não tinha cara de cartomante. Comecei a me explicar. Ela logo perguntou de onde eu era, respondi que era brasileira. E ela... também!!! Carioca, como eu. Como naquela época eu ainda não sabia que quem estava no comando do mundo era o Zuckerberg, agradeci a Deus. Pronto, respirei. Me chamou para entrar e tomar um copo de açaí. Sim, açaí. Muita sorte! Quase abri um pacote de farinha para fazer uma tapioca!! Me explicou que aquele apartamento era da amiga, também brasileira, e que fazia poucos dias que estava lá, de favor, pois perdera seu emprego naquela semana. Em geral, naquele horário, a casa estava vazia. Ou seja, sorte a minha!!

Assim que liguei meu celular, recebi uma mensagem enorme dele, dizendo que havia ficado preso em Los Angeles por conta da nevasca em NY. Cancelaram todos os voos e ele estava aguardando liberação para voltar. Uma amiga dele tinha a chave da sua casa e ele me passou o telefone dela, para que eu entrasse em contato. Pelo nome, não dava para saber se era brasileira ou americana. Ligamos. Brasileira. A moça do apartamento, me explicou como chegar ao endereço, disse para que eu deixasse as malas lá até que eu voltasse. Chego na porta da amiga, toco a campainha, sou recebida por uma moça LINDA, com um rosto que não me era nada estranho. Logo ela esclareceu: atriz famosa de TV do Brasil. Mas, a essa altura, minha cara já tinha congelado de frio para que eu pudesse expressar qualquer surpresa. Peguei a chave, voltei, me instalei e esperei por ele, que chegou à noite.

Contei as aventuras da minha chegada e ele me disse que não conhecia suas vizinhas, mas que deveríamos marcar algo com elas para nos conhecermos todos e agradecer devidamente. 

Uma semana depois, fomos jantar. Éramos seis ao todo (elas levaram duas amigas). A moça que me recebeu, era muito espontânea e divertida. Lá pelas tantas, meu amigo comentou que ela deveria ser atriz. Eis que contou-nos que já participara de um teste para uma minissérie de seu avô, mas que não levava jeito pra coisa. Por isso resolveu ser engenheira mesmo. Nós dois, atores, não hesitamos em perguntar quem era seu avô. Ela, então, como se quisesse fugir do assunto, respondeu quase se atropelando: “Ah, ele já morreu, se chamava Nelson Rodrigues. Mas aí na faculdade de engenharia eu...”.
Parem as máquinas!!!!!!!! Ele, perplexo. Eu, de imediato, a interrompi: “Nelson Rodrigues... Nelson Rodrigues?! O próprio??”
Sim, era ele. O Papa do teatro brasileiro!! Enchemos a menina de perguntas e, em troca, ouvimos várias histórias e fofocas da família!!

Durante os 15 dias em NY, algumas outras coincidências aconteceram. Nenhuma tão legal quanto essa, que certamente deu um toque especial à minha viagem e me rendeu novas amizades. Além das vizinhas, a linda atriz virou uma amiga muito querida, após um porre memorável que tomamos juntas numa festa! Mas essa é outra história...


Agora pense: com tantas portas em NY, acertei em cheio!! Um brinde à cara de pau brasileira!!

Um comentário:

  1. "Como naquela época eu ainda não sabia que quem estava no comando do mundo era o Zuckerberg, agradeci a Deus."
    HAHAHAHAHAHAAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

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