quinta-feira, 25 de maio de 2017

Aquela história de como a gente se conheceu

Meados de janeiro de 2010. Ou 11...? Chego num bar para encontrar amigos e com eles, um rapaz que não conheço. Bêbado. Conversa vai, conversa vem, ele conta que está muito preocupado, pois irá substituir um ator num espetáculo em Brasília dali a duas semanas e não teria ensaio. Estava precisando de alguém para bater texto com ele e estava disposto a pagar pela ajuda. Eu, que estava de férias da escola de teatro, entediada e brigada com minha mãe, aceitei na hora. Ele, bêbado, pegou o texto (sim, ele estava com o texto no bar. Que desespero, né?) e disse:

- Quero ver se você lê bem. Não dá pra ensaiar com quem não sabe ler direito.

Ou algo assim. Fizemos uma leitura rápida e pronto – contratada. Ah, sim, ele tinha mais um aviso:

- E não vai de sainha não, porque eu sou casado e minha esposa é  brava.

Pensei comigo por quê raios eu iria de sainha ensaiar na casa de alguém que acabei de conhecer... Mas enfim...
Logo a esposa chegou no bar e antes que ele pudesse introduzir o assunto, um amigo em comum foi me apresentando para ela como “a que vai ajudar ele a decorar o texto”. Pronto. Calcule o estresse.

Desafio aceito. Dia seguinte, 10h em ponto estava batendo na porta da casa do moço e da fera. Eu, como boa ciumenta, respeito os ciúmes alheios. Mas era verão no Rio de Janeiro. 80 graus à sombra. Desculpa, né? Short era o mínimo. Confesso que me tremi um pouco de medinho.

Entrei, sentei. A moça vinha saindo para trabalhar, se despediu brava, bateu a porta, abriu de novo, chamou o marido e começou o barraco no corredor do prédio. Eu só pensava numa saída estratégica, mas pular do oitavo andar estava fora de questão. Fingi, então, que eu era uma planta e fiquei imóvel e muda.

Ele voltou. Pedi desculpas. Não sei bem por quê, mas é sempre bom se desculpar, né? Começamos.

Primeiro dia – check!

Segundo dia... Mais ou menos a mesma coisa. Mas não precisei me fingir de nada... Ela só bateu a porta. Que aquilo não daria certo, estava claro. Mas comecei a perceber que, talvez, desse muito errado. E ainda dava tempo de cair fora, ou tentar alguma alternativa que não arriscasse tanto minha vida. Sugeri que os próximos encontros fossem em outro lugar, talvez ao ar livre, entre a minha casa e a dele, onde eu pudesse ir de bicicleta. Mas fui obrigada a concordar que, com aquele calor desumano, nós precisávamos de ar condicionado e a casa dele, era a melhor opção mesmo. Disse-me que tinha também uma casa em Petrópolis e que poderíamos combinar de subir juntos um dia, eu, ele e a esposa. Já imaginei meu cadáver desovado na estrada. Não, não, não, obrigada. Ficamos por aqui mesmo.

Eu tinha medo de passar de bicicleta pelo túnel que liga o Leme à Botafogo. Então ele, para me convencer de que não era perigoso, sugeriu me encontrar no dia seguinte na praia de Copacabana, de bicicleta para irmos juntos. Topei.

Cheguei na estátua do Drummond, encontrei o moço e seguimos. Não mais que 2 minutos. BUUUMM!!! O pneu da minha bicicleta estourou!!! O lugar mais próximo para consertar era no Arpoador. Toca pra lá. A pé. Meia hora de conserto. Morri em R$40,00. Este trabalho já estava me saindo caro. Seguimos no sol de quase meio dia.

Chegamos no prédio. Hoje era o primeiro dia livre da esposa, depois de um período longo de um freela. Ela estava em casa. Eu, morta, suada, exausta. Ele, compadecido, perguntou se eu gostaria de dar um mergulho na piscina do prédio enquanto ele subia para explicar a demora e acalmar a fera. Mas vamos e venhamos, quem iria acreditar nessa história de pneu furado, não é mesmo?? Ainda bem que guardei a nota fiscal do serviço. Não sou boba. Fui dar meu mergulhinho, quando ele desce, dizendo que ela não estava abrindo a porta. Eu, me sentindo um destruidora de lares, emprestei meu celular para ele ligar para casa. Pronto, atendeu. Ele tomou uma chuveirada e subimos. Molhados. De biquíni. Com a nota fiscal na mão! Explicamos tudo, ouvimos o sermão e... ao trabalho!!

Hora do almoço. Sentamos os três à mesa e pensei: tenho duas opções. Ou finjo que sou invisível, ou tento domar a fera. Puxei papo. Fluiu. Só sei que, ao final deste dia, ela estava me oferecendo vinho e me convidando para sua casa em Petrópolis!!
Viramos amigas. O carnaval foi lá, na casa, com muitos amigos deles. Outros tantos feriados e férias passei lá também. Ajudei-o em uma outra peça e depois numa novela. Virei sua assistente oficial, até ser substituída por um aplicativo que fazia meu trabalho por dois dólares.

A história virou piada entre a gente. E estou feliz por tê-la escrito. Assim, posso deixar registrada a versão verdadeira, para que nunca mais, ao contar, eles digam que fui de sainha. Porque eu não fui.

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