Meados de janeiro de 2010. Ou 11...? Chego num bar para encontrar amigos e
com eles, um rapaz que não conheço. Bêbado. Conversa vai, conversa vem, ele
conta que está muito preocupado, pois irá substituir um ator num espetáculo em
Brasília dali a duas semanas e não teria ensaio. Estava precisando de alguém
para bater texto com ele e estava disposto a pagar pela ajuda. Eu, que estava
de férias da escola de teatro, entediada e brigada com minha mãe, aceitei na hora. Ele, bêbado,
pegou o texto (sim, ele estava com o texto no bar. Que desespero, né?) e disse:
- Quero ver se você lê bem. Não dá pra ensaiar com quem não sabe
ler direito.
Ou algo assim. Fizemos uma leitura rápida e pronto – contratada.
Ah, sim, ele tinha mais um aviso:
- E não vai de sainha não, porque eu sou casado e minha esposa é brava.
Pensei comigo por quê raios eu iria de sainha ensaiar na casa de
alguém que acabei de conhecer... Mas enfim...
Logo a esposa chegou no bar e antes que ele pudesse introduzir o
assunto, um amigo em comum foi me apresentando para ela como “a que vai ajudar
ele a decorar o texto”. Pronto. Calcule o estresse.
Desafio aceito. Dia seguinte, 10h em ponto estava batendo na
porta da casa do moço e da fera. Eu, como boa ciumenta, respeito os ciúmes
alheios. Mas era verão no Rio de Janeiro. 80 graus à sombra. Desculpa, né?
Short era o mínimo. Confesso que me tremi um pouco de medinho.
Entrei, sentei. A moça vinha saindo para trabalhar, se despediu
brava, bateu a porta, abriu de novo, chamou o marido e começou o barraco no
corredor do prédio. Eu só pensava numa saída estratégica, mas pular do oitavo
andar estava fora de questão. Fingi, então, que eu era uma planta e fiquei
imóvel e muda.
Ele voltou. Pedi desculpas. Não sei bem por quê, mas é sempre
bom se desculpar, né? Começamos.
Primeiro dia – check!
Segundo dia... Mais ou menos a mesma coisa. Mas não precisei me
fingir de nada... Ela só bateu a porta. Que aquilo não daria certo, estava
claro. Mas comecei a perceber que, talvez, desse muito errado. E ainda dava
tempo de cair fora, ou tentar alguma alternativa que não arriscasse tanto minha
vida. Sugeri que os próximos encontros fossem em outro lugar, talvez ao ar
livre, entre a minha casa e a dele, onde eu pudesse ir de bicicleta. Mas fui
obrigada a concordar que, com aquele calor desumano, nós precisávamos de ar
condicionado e a casa dele, era a melhor opção mesmo. Disse-me que tinha também
uma casa em Petrópolis e que poderíamos combinar de subir juntos um dia, eu,
ele e a esposa. Já imaginei meu cadáver desovado na estrada. Não, não, não,
obrigada. Ficamos por aqui mesmo.
Eu tinha medo de passar de bicicleta pelo túnel que liga o Leme
à Botafogo. Então ele, para me convencer de que não era perigoso, sugeriu me
encontrar no dia seguinte na praia de Copacabana, de bicicleta para irmos
juntos. Topei.
Cheguei na estátua do Drummond, encontrei o moço e seguimos. Não
mais que 2 minutos. BUUUMM!!! O pneu da minha bicicleta estourou!!! O lugar
mais próximo para consertar era no Arpoador. Toca pra lá. A pé. Meia hora de
conserto. Morri em R$40,00. Este trabalho já estava me saindo caro. Seguimos no
sol de quase meio dia.
Chegamos no prédio. Hoje era o primeiro dia livre da esposa,
depois de um período longo de um freela. Ela estava em casa. Eu, morta, suada,
exausta. Ele, compadecido, perguntou se eu gostaria de dar um mergulho na
piscina do prédio enquanto ele subia para explicar a demora e acalmar a fera.
Mas vamos e venhamos, quem iria acreditar nessa história de pneu furado, não é
mesmo?? Ainda bem que guardei a nota fiscal do serviço. Não sou boba. Fui dar
meu mergulhinho, quando ele desce, dizendo que ela não estava abrindo a porta.
Eu, me sentindo um destruidora de lares, emprestei meu celular para ele ligar
para casa. Pronto, atendeu. Ele tomou uma chuveirada e subimos. Molhados. De biquíni.
Com a nota fiscal na mão! Explicamos tudo, ouvimos o sermão e... ao trabalho!!
Hora do almoço. Sentamos os três à mesa e pensei: tenho duas
opções. Ou finjo que sou invisível, ou tento domar a fera. Puxei papo. Fluiu.
Só sei que, ao final deste dia, ela estava me oferecendo vinho e me convidando
para sua casa em Petrópolis!!
Viramos amigas. O carnaval foi lá, na casa, com muitos amigos
deles. Outros tantos feriados e férias passei lá também. Ajudei-o em uma outra
peça e depois numa novela. Virei sua assistente oficial, até ser substituída
por um aplicativo que fazia meu trabalho por dois dólares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário