Eu não tinha mais o que fazer da vida e um amigo me chamou para
assistir à gravação de um programa de auditório. E antes que me julguem, pensando
que era o do Faustão, vou me defendendo: era o “Amor e Sexo” (bem melhor!). A verdade é que, quando criança, nunca fui ver os programas da Xuxa e
cresci meio frustrada com isso, então achei que a Fernanda Lima poderia ser uma
boa. Mas só achei mesmo. Não que tivesse sido horrível (não foi!!), mas é uma
experiência para se ter apenas uma vez na vida. E, definitivamente, não foi
culpa da Fernanda. Além do tempo para chegar lá, tem uma espera de quatro
décadas numa sala, junto com as galeras das caravanas. Sim, CA.RA.VA.NAS. Em
pleno século 21! Mas era uma aventura antropológica, então mantive o bom humor.
Comi até o lanchinho.
Estávamos eu, um amigo e cerca de uns 6 amigos dele, o
que já tornou a coisa divertida. Estávamos todos num mix de animação e vergonha
(alheia e própria). Assim que entramos no estúdio, descobri que as pessoas mais
“bonitas”, sentavam embaixo, onde as câmeras filmavam, e as menos agraciadas,
ficavam na parte de cima da arquibancada. Eu não queria saber se me achavam
feia ou bonita, só queria ter certeza de que não apareceria. Me escondi na
última fileira! A organizadora, porém, pediu que eu descesse dois andares, mas
dei meu jeito de ficar na penúltima, colada na grade, ao lado da equipe técnica
para não ser flagrada.
Começou a gravação. Bailarinos, atores, luzes, música, tudo
muito bacana... Corta!! Volta!! Repete. E assim foi, algumas vezes até eu mudar
o foco do palco para os bastidores. E lá estava ele: o cara do áudio!! Fiquei
hipnotizada. Era muito lindo!! E estávamos separados por... quase nada, já que
eu sentei ali, coladinha na equipe!! Não sei o que me deu, mas não conseguia
parar de olhá-lo e queria, de qualquer forma, que ele me visse. A partir dali,
o programa, para mim, passou a se chamar: O CARA DO ÁUDIO. Era tudo o que eu
via e prestava atenção. Logo descobri que não era só eu. Meu amigo e um dos
meninos que estavam com a gente, também estavam de olho no rapaz. Mas eu não
estava só de olho, estava apaixonada, como uma adolescente se apaixona por um
ídolo pop. Ridículo, mas aconteceu. E ele? Nem desconfiava da minha
existência!! Acompanhei seus passos durante toda a gravação. Mas, por um segundo,
me distrai e chamaram alguém no auto falante! Por sorte, meu amigo escutou o nome
e reparou que ele entrou para consertar o microfone da apresentadora. E não era
um nome muito comum.
Terminada a gravação, saí de lá obstinada, decidida a conhecê-lo.
Mas antes eu tinha que descobrir algo além do nome. Veio a moça do figurino
falar com a gente, e fui logo pedindo informações sobre ele. Ela, de cara
fechada, prontamente me responde: “É casado”. Pensei: “Que azar! E pela cara
dela, é a esposa!!” Mas peraí! Não tinha aliança... Ela devia gostar dele. Fui
pra casa pensando em mil estratégias para achá-lo nas redes sociais. Desta vez
São Zuckerberg das Sugestões de Amigos não foi nada eficaz. Tive que ir por
meios próprios, sobre os quais não entrarei em detalhes por motivos de: vão achar que sou
agente da CIA ou psicopata. Imagina, eu, da CIA! Haha! Jamais!! A pesquisa
durou alguns dias. Poucos. O que importa é: achei o dito cujo!! Não pensei duas
vezes a adicionei. Ele, antes de aceitar, perguntou quem eu era. Trocamos
algumas mensagens até que ele disse que tinha uma namorada. Imediatamente,
retirei o pedido de amizade, me desculpei e esqueci a história.
Exato um ano depois, contando essa história para alguém, me
lembrei dele. Como quem não quer nada (querendo tudo), procurei-o novamente.
Desta vez, estava solteiro. Conversamos, trocamos telefone e, dois dias depois,
marcamos um encontro. Eu não estava acreditando. Parecia novelinha teen! E, embora
eu não tivesse mais idade para isso, estava adorando! Foi tudo ótimo, ele era
realmente lindo, gente boa, tímido (!!) e gostou de mim!! Antes de nos
despedirmos, porém, confessou que estava saindo com alguém há algum tempo, mas
que não chegava a ser um namoro e que ele preferia estar apenas com uma pessoa.
Segundo ele, não sabia “administrar” duas. Justo. Fui a escolhida! Eu só me
encantava mais!! Trocávamos mensagens o dia inteiro, saíamos, aprendi a jogar
sinuca, conheci até a mãe! Ele se declarava, estava apaixonado também! Tudo
indo muito bem, obrigada! Até que... (tem que ter, né?) Um outro lado dele começou
a aparecer... Reações desproporcionais, amigos estranhos, ciúmes, insegurança,
desconfiança... Tudo o que ele escondeu de início, apareceu em avalanche e em menos de um mês!! Fui relevando até onde dava,
porque é isso que gente apaixonada faz, né?
Tínhamos decidido passar
o Reveillon juntos, numa festa que eu havia combinado com alguns amigos.
Chegando lá as paranoias só aumentavam! O leque de absurdos era enorme, nem vale à pena começar. Foi
uma noite um tanto estressante. Fomos embora, “para evitar a fadiga”, como
diria o “filósofo”.
Dia 1/1, 8h da manhã. Acordo com o moço arrumando suas coisas
dizendo que não queria mais nada comigo. A justificativa: tenho muitos amigos
gays, e segundo ele gays se aproveitam das amigas. Na sua concepção, como ele
mesmo disse, eu era “pole dance de gays”. Criativo, não? E preconceituoso. Além
disso, tenho outro defeito seríssimo: como boa carioca, gosto de funk. Até hoje
não entendi onde isso determina caráter ou afeta alguém, mas enfim... Cada qual
na sua enfermaria, não é mesmo? Diante de argumentos tão incoerentes e mal elaborados, mal
consegui discutir. O conto de fadas, tornou-se um teatro do absurdo. Nada fazia
sentido. Comecei o ano me livrando. Mandei de volta ao mar a oferenda.
Passei algum tempo digerindo tudo. E hoje, destaco dois pontos, que ficaram como aprendizado:
O melhor conselho que tive: “Em relacionamentos, primeiro: eu,
segundo: eu, terceiro: eu, quarto: o meu retrato.”
O melhor conselho que posso dar: Cuidado com seus desejos. Eles
podem se realizar.